Título: Após terremoto, Chile revê eficiência das comunicações para evitar falhas
Autor: Mahlmeister , Ana Luiza
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2010, Empresas, p. B2

O terremoto de 27 de fevereiro em Santiago do Chile e arredores não deixou apenas 500 mortos e desaparecidos, além de escombros na cidade velha. A catástrofe obrigou o governo e toda a sociedade chilena a repensar a eficiência das comunicações que fracassaram quando foi mais necessária. "A maioria dos prédios está preparada para terremotos, mas as comunicações, não. A infraestrutura fixa e móvel não funcionou na emergência e isso é muito grave", afirma Jorge Atton, secretário da Subsecretaria de Telecomunicações do Governo do Chile (Subtel), similar à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) brasileira. O Chile tem 17 milhões de habitantes, 10% deles são assinantes de internet com acesso em banda larga. Do total de municípios, 40% têm infraestrutura de banda larga, enquanto a densidade de telefonia móvel é de 100%.

Quem percorre as principais ruas de Santiago hoje não nota qualquer sinal do terremoto que afetou mais a cidade velha. Prédios do centro, como a Catedral e o Museu Arqueológico, estão sendo recuperados.

O abalo danificou fibras ópticas, cabos de cobre da telefonia fixa e derrubou torres de celulares, cortando as comunicações do país, principalmente no litoral. No momento do tremor quase toda a comunicação cessou. Quando a telefonia móvel foi restabelecida, não aguentou a sobrecarga do tráfego e logo saiu do ar. Atton foi convocado pelo Congresso do Chile para explicar o porquê da má qualidade do sistema.

"A sociedade exige alternativas eficientes para o caso de haver outra catástrofe e um plano de ação para que isso não ocorra mais", diz Atton. O governo ainda não avaliou quanto as teles terão que investir nesses sistemas de emergência. As empresas poderão repassar os custos para as tarifas, gradativamente, em três ou quatro anos.

A necessidade de ter um controle mais eficiente sobre as comunicações levou as autoridades chilenas a rever o conjunto de regulamentação desses serviços no país, incluindo a portabilidade numérica, licença única de serviços e desagregação das redes - a separação da infraestrutura dos serviços, que está no papel mas nunca funcionou. "Uma coisa interessante do terremoto, se é que podemos dizer assim, é que com o desastre as operadoras ficaram com menor poder de lobby", afirma o secretário.

A reforma das comunicações será conduzida pelo governo do Chile, que propôs o Plano Nacional de Emergências. O projeto foi protocolado no Congresso ontem e prevê vários eixos para impedir a interrupção das comunicações. Haverá uma comissão permanente que vai tratar do assunto com a coordenação do governo. Uma rede de emergência para situações de catástrofe ficará à disposição do governo. Esta infraestrutura poderá ser usada no dia a dia, mas em situações de emergência ganhará caráter de exclusividade.

O projeto indica ainda o estabelecimento de 400 pontos críticos no país. São áreas de risco onde as operadoras terão que investir em sistemas de energia e torres redundantes a serem acionadas em situações críticas. Outra iniciativa será uma rede de alerta com mensagens de texto (SMS) à prova de falhas, para não sobrecarregar a rede de voz nessas situações. O governo prevê ainda um canal exclusivo de broadcasting, de uso exclusivo estatal, suportado pelas teles.

O objetivo da Subtel é contar com um canal especial de comunicação, similar ao da polícia, para acionar quando houver emergência, enviando automaticamente SMS e alertas para os assinantes. Essa faixa teria redundância por satélite e manteria a rede no ar para comunicados importantes durante as catástrofes.

Chile é um dos países mais competitivos da América Latina e abriga cinco operadoras: Movistar (Telefónica) com 42% do mercado; Entel (de grupos chilenos), com 39%; e Claro (América Móvil), com 20%. A Nextel e a operadora de cabo VTR ganharam no fim do ano passado uma licença móvel e devem iniciar operação em breve.

Gerardo Lozano, presidente da Claro no Chile, diz que resta à operadora reforçar ofertas combinadas de telefonia fixa, móvel e banda larga. Hoje, os serviços são oferecidos separados pelas outras empresas do grupo, como a Telmex (telefonia fixa e banda larga fixa) e TV a cabo, em contas distintas.

"A América Móvil está se unindo na região para a convergência dos serviços. Esperamos a regulamentação da licença convergente no Chile para unirmos as contas dos serviços", diz Lozano. Similar ao Brasil, 75% dos celulares são pré-pagos, mas os impostos são bem mais baixos: só 19% de imposto de valor agregado. O Chile discute também a proposta de licença única de serviços, para 2014. (ALM)

A repórter viajou a convite da Futurecom Chile