Título: PSDB prepara reação à queda de Serra
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2010, Política, p. A6

A coordenação da campanha de José Serra (PSDB) à Presidência da República buscou, nas últimas 48 horas, entender o que levou à queda das intenções de votos no tucano (de 38% em março para 35%) e ao aumento dos potenciais eleitores da petista Dilma Rousseff (33% para 40%) no mês de junho. Embora questionem os dados da pesquisa Ibope divulgada quarta-feira, admitem que há alguma conexão com a realidade. O efeito no ânimo dos aliados foi muito negativo. Os tucanos reuniram-se para preparar uma reação.

Os resultados da pesquisa, que mostram Serra cinco pontos percentuais atrás de Dilma, levaram o núcleo da campanha do PSDB a fazer algumas avaliações: o discurso do candidato deve ser revisto, o ex-governador Aécio Neves (MG) precisa se empenhar mais na campanha nacional e as chances de o DEM ocupar a vaga de vice-presidente na chapa ficaram maiores.

A escolha do vice tornou-se prioridade. Serra cancelou viagem que faria ontem à noite para Manaus e convocou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que estava no Recife, para reunião em sua casa, em São Paulo, com outros aliados.

Nesse quadro de dificuldade, as pressões do DEM pela vice ganharam força na opinião de setores do PSDB. Ficou claro que a campanha da oposição depende do esforço total dos aliados e não pode prescindir de quaisquer apoios. No PSDB, no DEM, no PPS e nos demais partidos que aderiram a Serra, todos precisam arregaçar as mangas.

A preocupação principal era com o DEM, cuja cúpula deixou claro que seria uma humilhação para o partido não ter o direito de indicar o candidato a vice. Isso abalaria o empenho na eleição nacional. Os demistas tratariam de cuidar do seu objetivo maior, que é eleger o maior número de deputados federais e os quatro candidatos a governador, dos Estados do Rio Grande do Norte, de Sergipe, da Bahia e de Santa Catarina.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), vinha tratando o assunto como fato consumado. Disse que na convenção do dia 30, o partido aprovaria o nome do candidato a vice. Considerava a vaga do DEM, enquanto o PSDB não dissesse o contrário.

Um nome que esteve em alta cotação ontem entre os dirigentes demistas era o do ex-ministro Carlos Melles, deputado federal pelo DEM de Minas Gerais e ex-ministro do Esporte e Turismo do governo Fernando Henrique Cardoso. É mineiro, mas não é indicação de Aécio. Precisaria do aval do ex-governador. Se a opção ficasse mesmo com o DEM, uma ala do PSDB defendia o nome do deputado José Carlos Aleluia (BA). Outras opções, inclusive da presidente do Flamengo, Patrícia Amorim (PSDB), estiveram em discussão.

A decisão seria tomada por Serra após conversar especialmente com Aécio, o ex-presidente FHC e dirigentes do DEM. Pessoas mais próximas à candidatura de Serra acham que o ex-governador de Minas não está "entrosado" na campanha. Estaria cuidando apenas da questão local, para alavancar a candidatura do governador Antonio Anastasia (PSDB) à reeleição.