Título: Expansão do crédito deve ser monitorada, afirma Meirelles
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2010, Finanças, p. C5

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, avisou ontem que a autoridade monetária "não é e não será complacente" com os riscos que podem derivar da alta do crédito no país, que atingiu o estoque recorde de R$ 1,5 trilhão.

Meirelles chegou à Suíça para reuniões com outros banqueiros centrais, e em entrevista a jornalistas brasileiros sua sinalização não foi a de que o BC vai controlar a expansão do crédito, e sim "o risco prudencial, de perda de créditos e crise sistêmica" que pode ocorrer com essa alta.

"O importante não é olhar somente a taxa de expansão [do crédito], e sim olhar o risco do sistema", disse. "Do ponto de vista geral, isso faz parte da regulação. Até agora, o histórico do desempenho do sistema financeiro brasileiro tem sido extremamente bem-sucedido em evitar crises de crédito, mesmo durante a crise de 2008".

Para ele, a forte expansão de crédito não é de agora, mas data de 2003, saindo de uma base muito baixa, equivalente a 22% do PIB, e passou a quase 46% no rastro da estabilidade econômica. "Economia mais estável permite maior expansão do crédito. É responsabilidade do BC de fazer com que essa expansão do crédito se dê em base segura".

Disse que o BC tem tomado uma série de medidas, "continua fazendo o seu trabalho e este não se interrompe. A qualquer momento surgem sempre (...) é um processo contínuo de aperfeiçoamento", chamando atenção para a importância de controle dos riscos.

Vários economistas na Europa se inquietam com o baixo nível das taxas de juros nos países desenvolvidos e seu impacto nas economias emergentes em forte crescimento. Com a diferença de taxas de juros, enorme fluxo de capitais toma o rumo dos emergentes, valorizando a moeda, encorajando a expansão de crédito e as bolhas de preços de ativos. Quando as diferenças nas taxas se normalizam, desestabilizam as economias emergentes com a inversão dos fluxos de capitais.

Indagado sobre a questão, Meirelles declarou-se "sempre preocupado" com a hipótese de criação de bolhas, decorrente do forte fluxo de dinheiro externo, mas deixou claro que "no momento" o Banco Central não está considerando medida como controle de capital.

Ele argumentou que "temos um instrumento muito eficaz que é a compra de reservas, e temos ainda espaço para isso".

Para o presidente do BC, as bolhas "mais perigosas são aquelas que são alavancadas pelo sistema financeiro doméstico, como mostraram diversos países".

Defende nesse sentido uma regulação prudencial rigorosa e considera que o BC brasileiro tem atuado de "forma rigorosa evitando que qualquer entrada de capital alavanque o sistema como um todo, que é o que é perigoso".

Segundo Meirelles, entrada de capital no caso do Brasil fica restrita a determinados tipos de ativo. Isso não alavanca o crédito do sistema como um todo, porque está sujeito a normas prudenciais de controle do BC de risco e de alavancagem e de alocação de capital.

"Existem riscos específicos, mas que aí tem toda uma série de mecanismos que são macroprudenciais", reiterando com a compra de reservas. Ou seja, se existe uma entrada maior de capital, o BC adquire esse excesso. "Aliás, neste ano o BC já comprou mais que a entrada líquida de capitais no país", disse.

"Não há até o momento uma entrada muito maior de renda fixa. Por enquanto, a entrada está muito vinculada não à taxa de juros, mas ao crescimento do país". Ele atribuiu a queda recente de investimento direto estrangeiro ao "problema europeu".