Título: Preço da energia sobe 50% para a indústria
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2010, Brasil, p. A4

A retirada de 1.000 megawatts da oferta de energia do plano de expansão e a consequente decisão de alteração do nível-meta dos reservatórios para as usinas hidrelétricas do Nordeste, tomada na quinta-feira, tiveram efeito imediato no preço da energia para a indústria. No mercado à vista, em uma semana, a alta foi de 55% e nos contratos privados já chegaram a subir 40%. A expectativa dos consumidores livres é que essa tendência de alta permaneça pelo menos até o fim do ano.

As premissas que levam a esse cenário estão embasadas no consumo acima do planejado nesse ano e no fato de que o país pode ter um período seco mais seco do que o de anos anteriores em função do fenômeno "la niña". Na semana passada, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) reviu sua previsão de crescimento do consumo para esse ano de 7% para 7,7%. Se o Operador Nacional do Sistema (ONS) também revisar suas projeções, o preço à vista, medido pelo preço de liquidação das diferenças (PLD), é imediatamente afetado.

O que tem chamado mais a atenção de alguns consultores, porém, é o fato de que os níveis da chamada "energia natural afluente" para o Sudeste e Nordeste, ou seja, a energia que pode ser gerada a partir da água que chega às hidrelétricas, estarem em um volume muito menor do que o que se registrava em 2007, vésperas da explosão do preço da energia no mercado à vista e quando o país sofreu risco de racionamento e as termelétricas foram usadas para garantir o fornecimento durante todo o ano de 2008, gerando encargos de cerca de R$ 2,5 bilhões a serem pagos pelo consumidor. Neste ano, até junho já foram R$ 600 milhões.

Para Paulo Mayon, da comercializadora Compass, por enquanto, estes são apenas indícios preocupantes. "Ainda é cedo para saber qual será a intensidade do "la niña"", diz ele. De qualquer forma, a retirada de oferta de térmicas que levou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a recomendar a curva de aversão ao risco para as térmicas do Nordeste e o comportamento das chuvas permitiram à Compass, que realizou um leilão de energia na semana passada para entrega entre julho a dezembro, vender o insumo por um preço 40% maior do que o obtido por algumas comercializadoras duas semanas antes.

O presidente da Associação dos Grandes Consumidores Livres de Energia (Abrace), Ricardo Lima, diz que a sinalização de preços para contratos de curto prazo já é de forte alta e que também no longo prazo os preços devem subir. "Quem decidir aumentar produção e precisar comprar mais energia, vai pagar mais caro", diz Lima. Somente o setor industrial já consumiu quase 14% mais energia de janeiro a maio desse ano do que no mesmo período do ano anterior.

O conhecido PLD, que dá a referência do preço à vista da energia, já esteve nesse ano abaixo dos R$ 15 por MWh. Até maio, não tinha em nenhum momento chegado na casa dos R$ 40. Em junho, ficou na faixa dos R$ 60 e agora começa o mês de julho por volta de R$ 100 na energia para as regiões Sudeste e Centro-Oeste. O PLD é apenas uma referência ao mercado, já que nos contratos entre geradoras, comercializadoras e consumidores os preços se comportam de forma diferente, mas seguem a mesma trajetória ascendente. Até maio, os contratos para esse ano ficavam na casa dos R$ 80. Chegaram a ser comercializados por R$ 150 na semana passada, segundo contam alguns comercializadores.

A alta dos preços pode trazer de volta a oferta de contratos de longo prazo. Os geradores estavam segurando essa energia, esperando justamente a alta dos preços. É o exemplo clássico da energia que será destinada ao mercado livre pela usina hidrelétrica de Jirau. Os preços eram considerados tão baixos que o principal sócio da usina, o grupo GDF Suez, chegou a propor ao governo de vender essa energia de Jirau em leilões promovidos pelo governo federal cuja energia é destinada ao consumidor cativo, aquele que é atendido pelas distribuidoras.