Título: Senado atrai candidatos mais ricos
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2010, Política, p. A4

Em declarações entregues na segunda-feira à Justiça Eleitoral indicam que, em muitos Estados, os candidatos ao Senado informam patrimônio superior ao dos postulantes aos governos estaduais. A disputa por uma vaga na Casa atrai políticos com longa experiência na vida pública e empresários.

Em São Paulo, a maioria dos que disputam as duas vagas ao Senado declarou patrimônio superior aos de seus candidatos a governador. O ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB paulista e postulante ao Senado na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), informou bens no total de R$ 117,4 milhões à Justiça Eleitoral. Alckmin declarou R$ 940,8 mil.

Fazendas, sítios, imóveis, empresas de TV, rádio e jornal; cotas em cooperativas agrícolas, aplicações bancárias e até o equivalente a R$ 1,28 milhão em dinheiro vivo, entre dólares e reais, Quércia declarou guardar em casa. Em 2006, tinha R$ 111,6 milhões. Também na coligação tucana, o candidato a senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) disse possuir R$ 1,8 milhão. Do total, R$ 50 mil estão guardados em casa. O concorrente do PTB, Romeu Tuma, declarou patrimônio de R$ 4,2 milhões.

A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e postulante ao Senado tem patrimônio de R$ 11,9 milhões. Liderando a chapa de Marta está Aloizio Mercadante, candidato ao governo do Estado pelo PT, que informou um valor 25 vezes menor. Marta é dona de imóveis em São Paulo, no Guarujá, em Ubatuba e em Búzios; tem ações na Bolsa e aplicações em fundos de investimento. Mercadante declarou uma casa em São Paulo, um terreno, um carro e aplicações financeiras. O mesmo ocorre no PV de São Paulo. Fabio Feldman, candidato a governador, tem menos recursos que Ricardo Young, empresário que disputa o Senado em São Paulo.

No Rio, o deputado estadual Jorge Picciani (PMDB) tenta o Senado pela primeira vez com patrimônio de R$ 11,2 milhões, entre fazendas, investimentos em empresas de agropecuária e imóveis. O governador Sérgio Cabral, que disputa a reeleição pelo mesmo partido, informou ter R$ 843 mil. O concorrente ao governo do PV, Fernando Gabeira, não tem nem imóvel em seu nome. O candidato ao Senado de sua chapa pelo DEM, o ex-prefeito Cesar Maia, tem patrimônio modesto, que justifica pela transferência de todos os seus imóveis a filhos e netos.

Na disputa pelo governo do Espírito Santo, tanto o candidato do PSB, senador Renato Casagrande, quanto o do PSB, deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas, têm em suas coligações candidatos ao Senado com o patrimônio maior do que o deles. Casagrande declarou carros e apartamentos que totalizam R$ 564 mil, praticamente a metade do informado pelo candidato ao Senado Ricardo Ferraço (PMDB). O valor dos bens de Ferraço, vice-governador, aumentou de R$ 473,8 milhões, em 2006, para R$ 1,1 milhão. Candidato à reeleição na coligação, o senador Magno Malta (PR) informou ter R$ 941 mil, dos quais R$ 150 mil são em espécie. Adversário de Casagrande na disputa pelo governo, Vellozo Lucas repete esse cenário em sua chapa, com Rita Camata (PSDB) : declarou R$ 552 mil e sua correligionária, R$ 897,4 mil.

Dono de dezenas de propriedades, casas, apartamentos, carros e de ações de empresas, Blairo Maggi (PR) declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 152,4 milhões, ao registrar sua candidatura ao Senado pelo Mato Grosso. O valor é um dos maiores registrados nesta eleição pelo TSE e equivale a 74 vezes o montante declarado pelo candidato ao governo de sua chapa, Silval Barbosa (PMDB). Em quatro anos, o patrimônio de Blairo, que é um dos maiores plantadores de soja do país, quadriplicou.

Em Minas, Antonio Anastasia (PSDB) disse ter um apartamento e um automóvel, patrimônio equivalente a menos da metade do que foi informado pelos dois candidatos ao Senado de sua própria coligação. Aécio Neves (PSDB) informou ter R$ 617,9 milhões, entre imóveis e aplicações e o ex-presidente Itamar Franco (PPS), disse ter R$ 783,89 mil, valor de dois automóveis, um apartamento, uma casa e uma garagem em construção.

Há exceções, como no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Na disputa gaúcha, Tarso Genro (PT), informou ter R$ 2,9 milhões, bem acima dos bens declarados pelos candidatos ao Senado de sua chapa, Paulo Paim (PT) e Abgail Pereira (PCdoB).

Concorrendo ao comando de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM) tem patrimônio maior do que Paulo Bauer (PSDB) e Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Colombo disse ter R$ 1,4 milhão; o tucano, R$ 556 mil, e o pemedebista, R$ 576,9 mil. O mesmo ocorre na chapa de Ideli Salvatti (PT) e do candidato ao Senado Claudio Vignatti (PT). Ideli declarou R$ 600 mil e Vugnatti, R$ 452,5 mil. (Colaboraram Vandson Lima, Sérgio Bueno e Júlia Pitthan)