Título: G-20 só tem discutido preocupação com movimentos especulativos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2010, Brasil, p. A4

de Brasília

Durante a cúpula União Europeia, América Latina e Caribe, em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu, do presidente da França, Nicolas Sarkozy, o aviso de que monitorar os movimentos de preços das commodities será prioridade da presidência francesa do G-20, em 2011. Desde então, Lula tem manifestado preocupação com o assunto - o que fez, em público, ontem na África.

A próxima reunião do G-20 está marcada para novembro, na Coreia, e não há em nível técnico nenhuma discussão do tipo levantado por Lula. A preocupação com movimentos especulativos no mercado de commodities tem sido mencionada, porém, em documentos do grupo.

Sarkozy foi um dos principais negociadores entre os países ricos para transformar o G-8, grupo das economias mais influentes, em G-20, com a incorporação de economias emergentes, como Brasil e Índia. Nos últimos meses ele tem repetido publicamente o que disse a Lula em encontro reservado: na presidência da França no G-20, no ano que vem, uma das prioridades será dar "transparência" maior aos mercados de commodities como petróleo. Em junho, durante visita à Rússia, Sarkozy voltou a falar das commodities como "prioridade", argumentando que "esses mercados não são transparentes, não obedecem a regras de mercado, mas são guiados por especulação".

"Não terá chegado a hora - não de controlar preços, isso é ridículo - mas de pensar em um sistema de regulamentação, transparência, mínima organização para commodities agrícolas e principais combustíveis fósseis que beneficiem países produtores e consumidores", perguntou Sarkozy aos russos. Lula, na África, incluiu os minerais na lista de possíveis alvos do esforço regulador do G-20. Mas viu nesse tipo de esforço defendido por Sarkozy indícios de manipulação por parte dos países ricos, contra os interesses das nações ricas em recursos naturais.

No G-20, não há, no momento, nenhum grupo de trabalho para tratar especialmente das commodities. O tema costuma ser tratado, porém, nas declarações do grupo, desde a reunião de chefes de Estado do grupo, em Pittsburg, nos EUA, no ano passado, no auge do colapso no mercado financeiro. Esses documentos, em termos vagos, defendem maior transparência e melhor funcionamento dos mercados de commodities, e fazem referência às discussões mais amplas, sobre regulamentação dos chamados derivativos, papéis vinculados a outras aplicações financeiras.

Há suspeitas que especulação com papéis desse tipo inflaram os preços das commodities criando uma bolha, em 2007 e 2008, e as discussões sobre o assunto geralmente giram em torno de medidas para controlar essas aplicações, semelhantes às que já são aplicadas no Brasil.

Um estudo realizado no ano passado no âmbito do G-20 constatou que a maioria dos países já tem regras suficientes para evitar altas e baixas artificiais de preços provocadas por fundos especulativos. Sarkozy tem dito que quer tornar esses mercados mais transparentes e entender melhor a formação desses preços de commodities - o mais obscuro deles é o do petróleo. Lula dá demonstrações de que desconfia das verdadeiras intenções do amigo francês.