Título: Indicadores da CNI apontam para alta do PIB sem pressão sobre preços
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2010, Brasil, p. A2

de Brasília

O maior nível de expansão do investimento em comparação ao consumo das famílias amplia o parque fabril e sinaliza crescimento do PIB sem que haja risco significativo de pressão de preços. Essa análise favorável da conjunta é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que projeta para o restante do ano acomodação do uso da capacidade instalada em 83%, com pequenas oscilações.

A utilização da capacidade instalada no setor industrial atingiu 82,3% em maio, ligeiramente abaixo de 82,8% em abril. O que o desempenho acumulado de janeiro a maio mostra é uma diferença maior entre os percentuais mensais, comportamento diferente do previsto pela CNI para o segundo semestre.

Ao indicar acomodação do uso do parque fabril em um ano em que a economia avança em ritmo acelerado, os economistas da CNI argumentam que chegou ao fim o movimento de ocupação da ociosidade nos meses posteriores à crise. Os projetos de ampliação e abertura de novas fábricas estão sendo concluídos e resultando em ampliação da capacidade de produção.

Enquanto o consumo das famílias cresceu 9,3% no primeiro trimestre deste ano frente a igual período de 2009, a formação bruta de capital fixo teve variação positiva de 26%, segundo dados do IBGE. Além do investimento, o gerente-executivo da unidade de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, menciona outro dado para reforçar a indicação de baixo risco de pressão de preços industriais. Ele comparou a elevação de 4,6% na massa salarial real do setor industrial entre janeiro e maio com a alta de apenas 0,7% no rendimento médio real no período.

"A conclusão é que não detectamos pressão de custos na mão de obra empregada na produção", afirmou. Segundo ele, o determinante para o incremento da massa salarial tem sido a oferta de novas vagas de trabalho na indústria.

Ao enfatizar ampliação do parque produtivo e a ausência de pressões, a CNI tenta contrapor argumentos à necessidade de uma política monetária restritiva. "O juro alto é um entrave ao crescimento", diz Castelo Branco.

Ainda assim, a indústria tem à frente a dificuldade de dimensionar uma demanda interna alimentada por maior renda e oferta de crédito, e também a avaliação precisa dos impactos nos preços industriais da valorização de alguns insumos, entre os quais o minério de ferro e seus subprodutos.

Em termos gerais, os indicadores industriais atestam a plena recuperação do setor após o baque de 2009. Em maio, frente a maio do ano passado, evoluíram positivamente o faturamento (13,9%), as horas trabalhadas (9,9%), o emprego (6,1%), a massa salarial real (7,4%) e o uso da capacidade instalada (3 pontos percentuais).

No acumulado dos cinco primeiros meses de 2010, ante igual período de 2009, os dados são expressivos. As variações atingem 12,5% para faturamento, 7,5% para horas trabalhadas, 3,9% para emprego, 4,6% para massa salarial e 2,9 ponto no uso da capacidade. O desempenho, acima do esperado, levou a entidade a rever de 8% para 12,3% a projeção de expansão do PIB industrial para 2010.

Os indicadores mostram diferenças de expansão entre os 19 segmentos pesquisados. Os fabricantes de produtos de metal, máquinas e equipamentos, material eletrônico e comunicação, e as montadoras de veículos exibem os melhores resultados. Os segmentos de madeira, papel e celulose e minerais não metálicos crescem em ritmo menor. As usinas de refino de álcool e os fabricantes de equipamentos de transportes foram os subsetores que tiveram retração no faturamento no ano.