Título: Obama acredita
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2010, Mundo, p. 18

Depois de mais de uma hora de reunião com o premiê israelense, presidente dos EUA sai confiante na retomada das negociações de paz diretas com os palestinos.

Em seu quinto encontro no intervalo de pouco mais de um ano com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saiu aparentemente mais otimista do que nas reuniões anteriores. Em frente às câmeras, Obama disse acreditar que o governo israelense está preparado para negociações diretas com os palestinos e que Netanyahu está disposto a ¿arriscar-se pela paz¿. Ele ainda elogiou a decisão de Israel, confirmada no dia anterior, de flexibilizar o bloqueio à Faixa de Gaza. Também favoreceu a distensão entre os dois o indiciamento de um soldado acusado de assassinar um civil palestino em Gaza, em forte contraste com o clima pesado do encontro anterior ¿ precedido pela autorização para demolição de casas de árabes em Jerusalém Oriental.

Nos bastidores, entretanto, o otimismo de Obama esbarrou na irredutível posição israelense de não estender o congelamento dos assentamentos judaicos. Diante disso, a solução foi pedir que, ao menos, Israel retome as negociações diretas com os palestinos antes de o prazo expirar, em setembro.

¿Minha esperança é que, uma vez que as negociações diretas tenham começado, bem antes do fim do congelamento, elas criem um clima no qual todos sintam que há uma maior aposta no sucesso¿, disse Obama, durante coletiva de imprensa com Netanyahu. Ele disse confiar que o líder israelense vai promover ¿sérias negociações com os palestinos¿, enquanto Washington tenta transformar as conversas indiretas ¿ mediadas por seu governo ¿ em diretas. ¿Acredito que o primeiro-ministro quer a paz. Acredito que ele deseja arriscar-se pela paz¿, declarou.

Netanyahu afirmou que ¿é hora¿ de os líderes israelenses e palestinos conversarem diretamente. ¿Eu acho que, com a ajuda do presidente Obama, o presidente (da Autoridade Palestina, Mahmud) Abbas e eu devemos nos engajar em negociações diretas para chegar a um entendimento político de paz, com segurança e prosperidade¿, disse o premiê. Ele garantiu que está disposto a se encontrar com Abbas a ¿qualquer momento¿.

Após uma reunião que durou mais de uma hora, os dois líderes posaram para a tradicional foto no Salão Oval ¿ ritual que não haviam seguido na última reunião, em março. Obama e Netanyahu negaram que haja rusgas entre Israel e os EUA, argumentando haver um ¿elo inquebrantável¿ entre os dois países. ¿As informações sobre seu mal estado (da relação bilateral) são completamente errôneas¿, assegurou Netanyahu.

Interesses Na avaliação de especialistas, o esforço para melhorar a relação EUA-Israel ¿ nem que seja de fachada ¿ é imprescindível para ambas as partes. ¿Obama e Netanyahu tentaram arduamente ao menos criar a aparência de concordância. Ambos precisam de boas relações¿, afirma Mark Katz, professor da George Mason University. ¿Obama não quer se indispor com os eleitores pró-israelenses, que são bem mais numerosos do que apenas os judeus americanos. Já Netanyahu sabe que a defesa de Israel será muito mais difícil se tanto árabes quanto israelenses não acreditarem que os EUA os apoiam firmemente.¿

Para o especialista da Fundação Heritage Brian Darling, as fotos ¿amigáveis¿ após o encontro têm o objetivo claro de mostrar que as relações estão ¿cada vez melhores¿. ¿Pode até haver atrito nos bastidores, mas a imagem pública será de cooperação e amizade¿, observa. As relações, contudo, estão longe de alcançar a sintonia da era Bush, segundo Patrick Basham, do Instituto Cato. ¿Em vez de defender o lado de Israel automaticamente em qualquer disputa com os palestinos, como era a política não oficial de Bush, o presidente Obama vai apoiar ou rejeitar a posição israelense caso a caso¿, opina.

E a questão dos assentamentos em territórios palestinos certamente continuará sendo a mais sensível delas. ¿Obama quer que Israel pare de construir assentamentos, já que os palestinos e árabes sinalizam esse ponto como uma razão de qualquer concessão de sua parte é inútil. A base conservadora de Netanyahu, no entanto, é estridentemente pró-assentamentos¿, destaca Katz. Depois de líderes da coalizão conservadora no governo, ontem foi a vez de a ministra da Cultura e do Desporto de Israel, Limor Livnat, defender a retomada das construções nas colônias judaicas: ¿Não há a menor dúvida: a construção será retomada na Judeia-Samaria (Cisjordânia) imediatamente após o prazo previsto pela suspensão, 26 de setembro¿.