Título: No Nordeste, só uma obra começou
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2010, Brasil, p. A3
de Recife
Região com o maior número de sedes da Copa de 2014, o Nordeste também terá de correr contra o relógio para viabilizar a tempo as quatro arenas que receberão os jogos do Mundial. Em todas as cidades, o atraso no início das obras é atribuído a problemas nos processos de licitação dos estádios, que serão construídos por meio de Parcerias Público Privadas (PPPs). Com as obras de mobilidade urbana necessárias ocorre o mesmo: nada começou a sair do papel.
O caso que pode ser considerado mais "adiantado" é o de Salvador. O projeto da Arena Fonte Nova, para 50 mil espectadores, já está sendo tocado por um consórcio formado pelas construtoras OAS e Odebrecht. De acordo com o secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Nilton Vasconcelos, a demolição do Estádio Octávio Mangabeira, em cuja área será erguida a nova arena, de R$ 591 milhões, começou há 20 dias.
Para viabilizar o empreendimento, o governo baiano vai emprestar R$ 400 milhões do BNDES. Os recursos serão aportados na agência estadual de fomento e depois repassados ao consórcio. Outros R$ 238 milhões serão tomados pelas construtoras com o Banco do Nordeste. As duas operações, porém, ainda não saíram.
A previsão inicial para a arena baiana era de que as obras fossem iniciadas em março. Agora, a expectativa ficou para outubro. "Temos de correr contra o cronômetro", admitiu o secretário, que apontou a morosidade dos processos de licitação e de financiamento como os principais responsáveis pelo atraso. Ainda assim, garante que a Arena Fonte Nova será entregue até 31 de dezembro de 2012, prazo limite estipulado pela Fifa.
O mesmo acontece em Pernambuco. Apesar de o terreno onde será erguida a Arena Capibaribe ainda estar completamente vazio, o governo garante a inauguração dentro do prazo. Responsável pelo projeto, o secretário da Casa Civil, Ricardo Leitão, disse que as obras devem começar até o fim deste mês, assim que for concedida a licença de instalação do estádio.
O trabalho, porém, deveria ter começado em fevereiro. Questionamentos do Ministério Público Federal sobre cláusulas do edital de licitação atrasaram o projeto, de R$ 464 milhões. Também tocada pela Odebrecht, a arena será construída em São Lourenço da Mata, região metropolitana do Recife, e terá cerca de 46 mil lugares.
No Ceará, a licitação ainda não foi concluída. De acordo com o secretário estadual de Esportes, Ferrúcio Feitosa, a expectativa é de isso ocorra até o fim deste mês. Quatro consórcios ainda disputam a obra de modernização do Estádio Governador Plácido Castelo, o Castelão. O projeto, de R$ 452 milhões, prevê a ampliação da capacidade para 66,7 mil expectadores, o que poderá credenciar a arena para ser a única do Nordeste a abrigar um jogo de semifinal.
Na avaliação de Feitosa, o atraso nas obras se deve à briga judicial travada entre as empreiteiras interessadas. De acordo com reportagem da revista "Veja", o governo cearense estaria privilegiando a construtora Marquise no processo de licitação, do qual também participam Galvão Engenharia, Queiroz Galvão e Odebrecht - as duas últimas juntas em um consórcio. Apesar do atraso, o secretário também garante o cumprimento do prazo. "Vamos entregar até o fim de 2012. A obra era para ter começado em fevereiro, mas não foi possível. Os consórcios brigam e isso é prejudicial", queixa-se.
O caso mais complicado é o de Natal (RN), onde o edital da PPP sequer foi lançado. O imbróglio está no colo da Assembleia Legislativa, que ainda não regulamentou o fundo garantidor do Estado, necessário para a viabilização do empréstimo com o BNDES.
O governo também está sendo questionado pelo Ministério Público por ter contratado, sem licitação, a americana Populous, que elaborou o projeto básico e executivo do Estádio das Dunas. A arena, para 40 mil torcedores e custo de R$ 400 milhões, será erguida no local onde está hoje o Estádio João Machado, o Machadão.
Assim como todos os outros, o governo potiguar também garante que tudo estará pronto até dezembro de 2012. A expectativa é de que as obras do Estádio das Dunas comecem em outubro, já com oito meses de atraso.
Após o Mundial, todos os estádios do Nordeste serão explorados economicamente pelos consórcios durante um período pré-acordado. A ideia é que a realização de shows, festas, eventos religiosos e, claro, jogos de futebol, tornem as arenas minimamente rentáveis, possibilidade questionada por muitos especialistas, que apontam o risco do surgimento dos famosos "elefantes brancos". A concessão mais longa será na Bahia, de 35 anos. A mais curta, só oito anos, no Ceará. Pernambuco e Rio Grande do Norte concederão por 30 anos.
Além dos estádios, todas as cidades se comprometeram a realizar uma série de obras para melhorar a mobilidade urbana. Quase nada foi iniciado, mas a promessa é que tudo estará pronto antes de a bola rolar. Abertura de vias expressas, alargamento de avenidas e melhoria dos portos estão entre os projetos da região.
No Ceará, o governo pretende investir R$ 262 milhões na construção de um corredor de 13 quilômetros para um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). Também está prevista a construção de duas novas estações do Metrô de Fortaleza (R$ 35 milhões) e de um terminal de passageiros no Porto do Mucuripe (R$ 106 milhões). Um empreendimento semelhante deve ser construído no Porto do Recife, num investimento de R$ 200 milhões. A ideia é que o local receba navios transatlânticos, que possam servir de alternativa para hospedagem dos turistas. A rede hoteleira da capital pernambucana foi considerada insuficiente pela Fifa.
Também estão previstas para o Recife novas estações do metrô, que façam a ligação entre o Aeroporto dos Guararapes e a região do estádio. De acordo com o governo, as obras da estação que ficará próxima da arena já começaram.
Em Salvador, o governo baiano pretende construir uma linha expressa de ônibus, ligando o aeroporto ao metrô e ao entorno da Arena Fonte Nova. O porto da capital também deverá receber um terminal de passageiros. Se adicionadas outras obras menores, os investimentos totais em mobilidade urbana (federais, estaduais e municipais) somam R$ 560 milhões.
Já na capital potiguar, o investimento estadual será de R$ 82 milhões. O prolongamento de avenidas, a construção de entroncamentos e a melhoria dos acessos ao aeroporto são as prioridades.