Título: Bancos em promoção
Autor: Luciana Monteiro
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2010, Eu e investimentos, p. D1

de São Paulo

A escalada da aversão ao risco, sobretudo com relação à saúde financeira dos bancos internacionais, está afetando diretamente as ações das instituições financeiras por aqui. O rebaixamento da avaliação de risco dos bancos europeus e o temor de quebradeira por conta do contágio da crise fiscal em alguns países fazem com que os efeitos sejam sentidos por aqui. O movimento é ainda mais perverso entre as ações de bancos pequenos e médios. A boa notícia, entretanto, é que o setor financeiro do país é sólido e o fato de os papéis terem caído muito podem representar ótimas oportunidades.

Levantamento da consultoria independente Lopes Filho & Associados mostra que os bancos de médio porte estão atualmente com indicador preço em relação ao seu valor patrimonial (P/VPA) em torno de 1 vez ou até abaixo disso. Esse índice revela se uma empresa está sendo negociada abaixo de seu valor patrimonial, o que pode ser um indicador de que a ação está barata. Quanto menor esse número, melhor. Para se ter ideia, a maioria das "small caps" do setor financeiro foram lançadas em bolsa com uma relação P/VPA em torno de 2,5 vezes.

Instituições como ABC Brasil, Daycoval, Banrisul, Paraná Banco e Pine estão bem descontadas em bolsa. "E, dados os bons fundamentos dessas instituições, os papéis podem ser interessantes opções de investimento", ressalta João Augusto Sales, economista da Lopes Filho e responsável pelo levantamento.

O potencial de valorização para alguns bancos menores fica na casa dos 40% para os próximos 12 meses, enquanto o dos grandes bancos é de 28%, em média, para o mesmo prazo, segundo cálculos de Sales. É natural que os menores tenham expectativa de retorno maior, já que o risco implícito também é mais alto, ressalta o economista. "O momento é de oportunidade de compra no setor de bancos, mas a aversão ao risco continua, portanto, o investidor deve, mais do que nunca, ter visão de longo prazo; não especular", avalia. Com a expectativa de forte crescimento do país, na casa de 6,8%, pelas projeções de Sales, e aumento no crédito, as perspectivas para o segmento são bastante favoráveis, diz.

Os bancos brasileiros, em geral, acabaram sofrendo por causa de um fenômeno chamado "paralelo dos múltiplos". Por mais que o setor aqui tenha fundamentos fortes, quando comparados aos similares lá fora, os bancos locais aparentam estar caros, pressionado os preços para baixo. Múltiplos são parâmetros usados por analistas para saber se uma ação está cara ou barata. "Os múltiplos lá fora estão derretendo, e aqui por tabela", diz Laura Lyra Schuch, analista do setor financeiro da Ativa Corretora. "O medo de uma futura crise no setor bancário aumenta a aversão ao risco, o que faz com que os múltiplos dos bancos caiam e os bancos daqui acompanhem o movimento."

Mas o sistema bancário brasileiro é muito mais sólido em termos de solvência. O chamado Índice de Basileia, que mede o quanto os bancos podem conceder em empréstimos, por exemplo, é de 11%, mais alto que os 8% exigidos em outros países.

No portfólio mensal recomendado pela Spinelli, dois papéis são do setor financeiro: as preferenciais (PN, sem direito a voto) de Itaú Unibanco e BicBanco. De acordo com relatório da corretora, o segmento bancário continua mostrando dados consistentes, conforme informações do Banco Central do fim de junho. O saldo de recursos livres mostrou crescimento de 2% em relação a maio e 12,5% ante o mesmo mês do ano passado. "A despeito dos bons fundamentos do setor financeiro, os bancos tiveram um fraco desempenho no mês passado (...) Acreditamos que em julho o setor irá apresentar um desempenho superior ao do índice Ibovespa", diz relatório da corretora.

Na visão de Laura, da Ativa, o crescimento de 6,5% do PIB deixa as perspectivas bastante favoráveis. "Deve haver desaceleração da economia no segundo semestre, mas a expansão, ainda assim, deverá continuar forte e tende a ser sustentável", diz Laura. Contribuem para uma expectativa favorável o aumento na demanda por crédito e a queda na inadimplência. "Sem falar que os bancos estão conseguindo captar, mesmo os pequenos e médios", afirma. E os spreads bancários - taxa que representa a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos no mercado e o juro cobrado dos clientes - continuam altos.

Os bancos menores foram a mercado em 2007, aproveitando a janela de oportunidade que existia no mercado para ofertas públicas naquele momento. Do total de ações ofertado, em média 80% dos papéis ficaram com os investidores estrangeiros que, na crise de 2008, venderam esses ativos a qualquer preço, o que fez com que as ações despencassem. Com isso, algumas instituições começaram a recomprar papéis, caso do Pine e do BicBanco.

Com a crise de liquidez, a defesa dos bancos naquele momento foi aumentar o caixa, lembra Sales, da Lopes Filho. Além disso, o governo reduziu o compulsório e os menores venderam suas carteiras de crédito principalmente para o Banco do Brasil e Caixa. "O fato é que, passado o pior momento da crise, os papéis se mantêm depreciados", diz o analista.