Título: Sondagem de serviços preenche lacuna
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2010, Brasil, p. A3

De São Paulo

A nova leva de indicadores econômicos não se resume a índices que procuram de algum modo antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB). Uma das principais novidades é a Sondagem do Setor de Serviços, elaborada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) por encomenda do Banco Central (BC), cujo primeiro resultado foi divulgado em junho. A LCA Consultores lançou também no mês passado o Nível de Utilização dos Fatores de Produção (NUPF), para estimar se há ociosidade de recursos na economia.

A sondagem de serviços tem sido saudada por trazer informações sobre o setor, que tem peso de quase 60% no PIB. "Sabia-se muito pouco sobre um setor com grande importância na economia", resume o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. A pesquisa da FGV ouve mais de 2 mil empresas, tendo natureza basicamente qualitativa, segundo o economista Silvio Sales, consultor da FGV que atuou na elaboração da sondagem. "A ideia é tornar mensurável a percepção dos empresários sobre a tendência do setor."

Sales observa que a pesquisa segue a tendência internacional, não incluindo os segmentos da administração pública, saúde, educação, setor financeiro e comércio. A sondagem se concentra em sete segmentos: serviços a famílias, a empresas, de informação, atividades imobiliárias e aluguel de bens móveis e imóveis, de manutenção e reparação e outras atividades de serviços. Sales diz que a FGV trabalha também na elaboração de sondagens de outros setores, como do comércio - que deve sair mais rápido do forno - e de construção civil. Para ele, a maior previsibilidade da economia brasileira explica o surgimento de indicadores como a sondagem de serviços e os "PIBs mensais". Há dez ou 15 anos, todo o investimento era no acompanhamento de preços.

Nesse cenário, a LCA aproveitou para lançar o NUPF. O objetivo do indicador é estimar o chamado hiato do produto, jargão econômico para a diferença entre o quanto a economia cresce de fato e o quanto ela pode crescer sem gerar pressões inflacionárias. O indicador leva em conta o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) da FGV, a taxa de desemprego e a produção industrial, essas duas do IBGE. "O indicador reflete as pressões inflacionárias oriundas do grau de utilização dos fatores de produção - capital e trabalho", explica Borges.

O NUPF sai com defasagem de cerca de um mês. O resultado de maio indicou que a atividade estava um pouco abaixo do ritmo potencial de crescimento do país, depois de ter ficado acima nos dois meses anteriores. Para Borges, isso indica que, se não há grande folga no uso de recursos, tampouco há grande pressão, como havia em meados de 2008. Com isso, ele não vê necessidade de uma alta muito forte dos juros. Borges estima que a Selic, hoje em 10,25% ao ano, vai chegar a 11,75% em dezembro. Alguns analistas projetam juros de até 13% no fim de 2010.