Título: Escolas privadas abaixo da média
Autor: Magalhães, Camila de
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2010, Cidades, p. 27

MEC selecionou, por amostragem, 52 instituições particulares do DF, mas colégios contestam dados e afirmam desconhecer a metodologia utilizada

Apesar de a rede particular de ensino do Distrito Federal ainda superar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da rede pública nas séries iniciais (1ª a 4ª) e finais (5ª a 8ª) do ensino fundamental e também do ensino médio, as escolas privadas não atingiram as metas estabelecidas pelo Ministério da Educação para 2009. Por outro lado, a rede pública superou todas as expectativas. Na etapa de 1ª a 4ª séries, as escolas do governo atingiram, em 2007, a meta de 4,8, prevista para ser atingida em 2009. Nesse ano, a nota alcançada foi de 5,4. Já nas instituições privadas, o índice aumentou com relação a 2007, mas ficou em 6,5 ¿ 0,2 ponto a menos do que a projeção, que era de 6,7. Além do DF, outros dois estados não conseguiram atingir as expectativas: Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A situação das escolas particulares do DF é pior nas séries finais, já que houve queda de 0,1 ponto no Ideb (5,9 para 5,8), enquanto a previsão era chegar a 6,1. A frustração foi parecida em outros cinco estados (RS, SP, SE, AL e CE).Com nota 3,9, as instituições públicas de 5ª a 8ª série da capital federal ultrapassaram em 0,5 o índice definido para o ano passado. A nota do ensino médio público no DF foi a mesma de 2007: 3,2 ¿ 0,1 ponto acima da meta. Nas escolas privadas, foi percebido um discreto aumento na nota (de 5,5 em 2007, para 5,6 em 2009), mas a taxa continua distante da projeção de 6. O DF, no entanto, não foi o único a enfrentar essa situação. As redes particulares de oito unidades da federação apresentaram resultados insuficientes (RS, SP, MG, BA, SE, AL, RN e CE).

O cálculo do Ideb(1) é feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a partir do desempenho e da taxa de aprovação dos alunos do ensino fundamental e médio, segundo a Prova Brasil, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Censo Escolar. A adesão das redes pública e privada é voluntária, porém, as escolas de ensino fundamental da rede pública participam em peso da Prova Brasil, obedecendo ao critério de ter pelo menos 20 alunos por série avaliada. Enquanto isso, as da rede particular são inseridas no Saeb por amostragem, assim como o ensino médio de ambas as redes. Segundo o Inep, das 450 escolas particulares do DF, 52 foram avaliadas, sendo 15 de ensino médio. A escolha das instituições é feita aleatoriamente, por meio de sorteio, seguindo critérios estatísticos. Há metas diferentes em nível nacional, estadual, municipal e entre escolas das duas redes.

¿Esse dado não é condizente com a rede que a gente tem, sobretudo no ensino médio¿, contesta Amábile Pácios, presidenta do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) e diretora da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). Amábile afirma que uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas aponta a rede privada do DF como uma das melhores do país e salienta o fato de um grande número de alunos dessas escolas serem aprovados em vestibulares de concorridas universidades brasileiras. ¿Temos dados que apontam que nós temos as melhores escolas. Nossos alunos leem bem e têm uma boa formação¿, destaca a diretora.

Amábile defende que a avaliação do Inep tenha um número mais expressivo de instituições particulares. ¿O que posso dizer é que desconheço os métodos; as escolas avaliadas; como foram avaliadas e quem traçou as metas.¿ A educadora frisa que institucionalmente não conhecia os números estabelecidos para o Ideb e cobra um maior diálogo entre o Ministério da Educação e as escolas da rede privada. A presidente do Sinepe-DF garante que nenhuma das grandes escolas da cidade participou da avaliação.

1 - Metas de qualidade O Ideb foi criado em 2005 para medir a qualidade do ensino público no país e é calculado a cada dois anos, levando em conta as notas da Prova Brasil e os índices de reprovação. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) estabeleceu metas de qualidade que devem ser atingidas pelo país, pelos estados, municípios e pelas escolas. O objetivo é que a média nacional chegue a 6 em 2021.

Momento de reavaliar

Para o secretário de Educação do DF, Marcelo Aguiar, os critérios estabelecidos pelo Inep são extremamente confiáveis. ¿Entendemos que a amostragem realizada e os exames são um retrato da realidade. Toda e qualquer avaliação tem que servir como uma bússola. A rede privada deve olhar os números com atenção para tomar as medidas cabíveis para melhorar. Não pode apenas contestar a metodologia ou dizer que as escolas não foram entrevistadas¿, opina.

Na avaliação de Aguiar, as escolas públicas superaram o estigma histórico de que as escolas privadas sempre são melhores. ¿O fato de ter havido uma migração de alunos da rede privada para a pública nos últimos anos já demostra que a pública começa a ser reconhecida pela sociedade que atende.¿

As metas menos exigentes para a educação pública, explica a conselheira Clélia Craveiro, do Conselho Nacional de Educação, devem-se ao deficit de atendimento, material e infraestrutura nacional, o que não ocorre na rede privada

Quanto à dificuldade das escolas particulares em atingirem as metas, Clélia levanta a hipótese de a rede estar propondo um caminho de ensino que não esteja em consonância com a avaliação nacional. ¿É preciso que se faça uma avaliação mais profunda. Não acredito que seja um problema estatístico ou uma questão técnica da amostragem. Se tudo é tão bem estruturado, por que elas não alcançam as metas?", questiona. O presidente-executivo do movimento Todos pela educação, Mozart Neves Ramos, acrescenta que o esforço para atingir índices mais altos é bem maior para quem está mais próximo deles. ¿É muito mais simples passar de 4 para 4,4 do que de 5,6 para 6, por exemplo.¿ (CM)