Título: Aliança PSDB/DEM é a mais verticalizada
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2010, Política, p. A6

A verticalização das coligações foi derrubada pelo Congresso Nacional logo após as eleições de 2006, mas a lógica federal foi imposta nas disputas estaduais este ano. A parceria entre PSDB e DEM e entre o PT e o PMDB, que polarizam a eleição presidencial entre o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff, é reproduzida na maioria dos Estados. Tucanos e integrantes do DEM só não estão juntos em sete Estados. A união entre PT e PMDB é menor: fazem parte de coligações diferentes em treze eleições para governador.

O mesmo padrão é seguido pelos partidos menores de cada aliança. O PPS está junto com os tucanos em dezesseis disputas estaduais . Do lado de Dilma, o PR está alinhado com os petistas em quatorze eleições regionais e o PSB fechou com o PT ou o PMDB em dezessete estados. A exceção é o PTB, em que o apoio dado pela cúpula nacional ao candidato presidencial do PSDB não garantiu um padrão uniforme nos Estados. Os petebistas não estão alinhados com PSDB ou PT em oito situações, uniram-se ao PT em dez estados e fizeram parcerias com os tucanos em nove.

A reprodução das alianças nos Estados não é gratuita: demonstra a força das cúpulas partidárias, sobretudo dentro da base governista federal. O caso de Minas Gerais é o mais evidente, onde uma prévia para a candidatura própria petista ao governo estadual foi ignorada pela direção nacional e o do Maranhão é o mais traumático: depois de aprovar aliança com o PSB, o PT local foi forçado a apoiar o PMDB, levando dirigentes históricos do partido a uma greve de fome.

O resultado foi o estabelecimento de uma polarização semelhante à que divide Dilma e Serra. É o caso do Distrito Federal, em que PSDB e DEM decidiram apoiar Joaquim Roriz (PSC) contra Agnelo Queiroz (PT), que reúne praticamente toda a base governista. O mesmo irá ocorrer no Paraná, entre o senador Osmar Dias (PDT) e o ex-prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB). Esta também é a tendência de Minas Gerais, entre o senador Hélio Costa (PMDB) e o governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato à reeleição. E ocorre ainda na Paraíba, Pernambuco, Espírito Santo, Acre, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Roraima, Sergipe e Rio de Janeiro.

Nos Estados em que a disputa nacional não é reproduzida, há uma pulverização e tendência maior a segundo turno. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há três candidatos competitivos: o ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro (PT) e a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Não está ainda inteiramente clara a posição de Fogaça diante da questão nacional , em uma eleição que dificilmente ganhará um tom exclusivamente local, dado que , apesar das repetidas profissões de mineiridade de Dilma, a candidata vota em Porto Alegre. Em Alagoas, é provável que a eleição presidencial influencie menos na disputa entre o governador Teotônio Vilella Filho (PSDB), Ronaldo Lessa (PDT) e o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB).

O PSDB e o PT não fazem parte da mesma coligação em estado algum do país. A dinâmica nacional impediu que esta situação se concretizasse no Ceará, onde, no início de junho, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), rompeu uma aliança histórica com os irmãos Cid e Ciro Gomes, o primeiro governador e candidato a reeleição pelo PSB. Cid Gomes, depois de muita relutância, aceitou as candidaturas ao senado de José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB), retirando o espaço do tucano, que, de última hora, lançou o deputado tucano Marcos Cals. Mas os oposicionistas DEM e PPS não demarcaram os campos com tamanha nitidez.

O DEM divide com o PCdoB a coligação para apoiar a reeleição de Omar Aziz (PMN) ao governo do Amazonas e o PPS decidiu apoiar o petista Agnelo Queiroz no Distrito Federal, recusando a aliança pela volta de Joaquim Roriz (PSC) celebrada pelo DEM e pelo PSDB. O DEM e o PT ainda repartem a coligação pela reeleição da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). E os dois partidos caminham para estabelecer uma aliança informal no Pará, em uma possível troca de apoio entre a governadora petista Ana Júlia e a candidata do DEM ao Senado, a deputada Valéria Pires Franco.

Com apenas dez candidatos próprios ao governo, o PT terá 23 candidatos ao Senado. Já o PMDB lançou treze candidatos a governador e 21 a senador, situação que denota qual foi o acerto tácito entre a cúpula nacional dos partidos. Os tucanos lançaram para os governos estaduais dezesseis candidatos, ante apenas quatro do DEM e dois do PPS. Para o Senado, o PSDB fez um investimento menor, lançando apenas dezesseis postulantes para as 54 vagas em jogo, ante doze candidatos do DEM.