Título: Ajuste nos países ricos vai segurar economia global
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2010, Internacional, p. A8

O ajuste fiscal nos países ricos deve tirar 1,25 ponto percentual do crescimento econômico mundial em 2011 e atingir também os emergentes, avalia a entidade que representa os maiores bancos do mundo, o Instituto Internacional de Finanças (IIF).

Pelas projeções, o crescimento econômico do Brasil cairá quase pela metade, de 7,5% este ano para 4,4% em 2011, coincidindo com o primeiro ano do novo governo.

A análise dos bancos reforça a preocupação de uma recaída na recessão que toma conta dos mercados nos EUA e na Europa. Ou seja, a expansão econômica recente pode ser mais temporária do que uma recuperação real das economias ditas maduras.

Em 2009, os programas de estímulo lançados pelos países desenvolvidos resultaram em 2 pontos adicionais no Produto Interno Bruto (PIB). Já neste ano, terão efeito "neutro".

Mas, em 2011, a enorme virada de política fiscal, passando de estímulos para forte redução de despesas e aumento de impostos, deve contrair o crescimento econômico dos países desenvolvidos de 2,5% para 1,8%, ou menos.

Na próxima fase do ajuste fiscal, de um lado estarão os países forçados a medidas mais agressivas no curto prazo por causa da capacidade limitada de financiamento, principalmente na zona euro. E, de outro, os que tem acesso a financiamento, como os sete maiores economias do mundo, e podem fazer um ajuste fiscal gradual em 2011-2012 e mais tarde.

Uma preocupação forte é com relação aos EUA. A IIF calcula que o endurecimento fiscal vai tirar um ponto percentual do PIB da maior economia do mundo. E prevê alta de impostos, corte nas despesas e retirada de estímulos do American Recovery and Reinvestment Act.

Além disso, deverá haver menos transferência de recursos do governo federal para os Estados americano. O IIF cita crescente temor de analistas quando ao risco maior de calote por governos locais nos EUA em 2011.

Na zona euro, que reúne os 16 países que utilizam a moeda comum europeia, analistas consideram que medidas fiscais anunciadas desde maio podem exacerbar o já forte desemprego. Sem reaceleração nas contratações de empregados, o ritmo na recuperação econômica será inaceitavelmente lento. Alem disso, a fragilidade dos bancos europeus está no centro das preocupações.

Nas economias emergentes, a fase de aceleração do crescimento após a crise é dada, pelos bancos, como terminada, embora o tamanho de qualquer desaceleração nos próximos 12 a 18 meses deva ser moderado, sobretudo comparado à situação das economias desenvolvidas.

Todos os grandes emergentes têm desempenho melhor em 2010 em comparação com 2009. Mas a China, com peso decisivo, deve diminuir o ritmo dos investimentos públicos a partir do segundo semestre, embora mantendo uma robusta demanda doméstica.

A expectativa de aumento mais moderado das exportações chinesas a partir deste mês deve reforçar a relutância do governo de Pequim, o que provavelmente limitará o ajuste do yuan ou pode até fazer retornar a "tendência do pré-crise" de moeda desvalorizada.

O IIF projeta para 2011 expansão chinesa de 9,5%, comparado a 10% neste ano, o que implica desaceleração neste segundo semestre; na Índia, de 8,1%, contra 8,6% neste ano; e no Brasil, 4,4%, depois dos 7,5% esperados para este ano.

Os dois países que mais inquietam investidores seriam Argentina, com "modelo de crescimento insustentável" que deve se manter até as eleições de outubro de 2011; e Venezuela, com "má gestão, intervenções, erosão nos direitos de propriedade privada e conflitos políticos que deixaram a economia vulnerável a flutuações do preço do petróleo".