Título: Da Aliança para o Progresso para a política ambiental
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2010, Especial, p. A14
"Não tenho nada a ver com isso não", responde Israel Klabin ao ser perguntado sobre sua participação na campanha de Marina Silva (PV) a presidente. É citado, porém, por diversos integrantes da campanha do PV como um dos principais articuladores junto ao empresariado. Aos 83 anos, Klabin foi prefeito indicado do Rio entre 1979 e 1980 pelo MDB. É acionista da empresa que leva seu sobrenome e preside a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), associação de empresas como Acesita, Aracruz, Brascan, Belgo-Mineira, Suzano, Vale, Andrade Gutierrez, Mannesmann, Nutrimental, Petrobras, Ripasa, Saint Gobain, Shell, Tetra-Pak e Veracruz.
Até a denominação de empresário, Klabin rejeita. Se diz "super amigo" de Marina. "Farei o que puder para ajudá-lá. Democracia e processo liberal de crescimento são constantes do nosso pensamento", afirma. É próximo também ao candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. "Sou amigo de muitos anos de Serra e de Marina", afirmou. Conhece "vagamente" a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, mas diz que a ex-ministra é "uma pessoa digna". Depois, declara seu sonho político: "Se Serra e Marina estivessem juntos numa chapa seria muito bonito", afirma.
Klabin evita, contudo, abrir sua posição nestas eleições e se diz apartidário. "Meu voto é secreto. O que fazemos [a FBDS] serve para qualquer governo que venha a se instalar no Brasil. Posso ter minhas simpatias baseadas no princípios do desenvolvimento sustentável, fora as amizades antigas", afirma. O acionista da empresa de papel e celulose e militante da causa ambiental defende Serra quando questionado se o candidato tucano teria visão desenvolvimentista contrária aos ideais da sustentabilidade ambiental. Argumenta que São Paulo foi o primeiro Estado a declarar limites de emissão de carbono.
Sobre Marina, conta que lhe ofereceu um almoço com ambientalistas durante a Conferência sobre Mudanças Climáticas em Copenhague, em dezembro. Para Klabin, a presença de Marina no cenário eleitoral, mesmo que não seja eleita, vai ajudar a eleger uma bancada ambientalista maior no Congresso. "Pela primeira vez, vai ter um grupo que pode defender nossas bandeiras. Isso pode ajudar muito na nossa agenda ambiental, seja com Serra ou Dilma", afirma.
Com formação em engenharia e ciência política, Klabin já esteve à frente dos negócios da família, assessorou empresas privadas, trabalhou no Banco Mundial, ajudou a formatar a Sudene e trabalhou no projeto norte-americano "Aliança para o Progresso", desenvolvido pelo governo John Kennedy na América Latina nos anos 60.
Comanda há 22 anos a FBDS, no Rio, onde desenvolve projetos ambientais sob encomenda em áreas como matriz energética, mudança climática, hidrografia e zoneamento ecológico para empresas e governos.
Klabin vê grandes oportunidades de negócios no país se os investidores enveredarem na linha do desenvolvimento sustentável. "Se alguém me pergunta onde deve investir, digo energia renovável", afirmou.
O ex-prefeito tem assento no conselho de administração da Klabin, maior produtora e exportadora de papel do país. Não vê embate entre a produção da empresa e o ambiente. "O desenvolvimento das atividades é compatível com minhas crenças ambientais. As áreas ambiental e social são preciosas na empresa", afirmou. Ressalta que o pai, Wolff Klabin, foi o "o maior investidor florestal do país". (A.P.G)