Título: Retomada perde fôlego nos EUA e expansão em 2011 pode ser menor
Autor: Whitehouse, Mark; Hilsenrath, Jon
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2010, Internacional, p. A10

Desacelerando: Maioria dos economistas não acredita, porém, numa recaída na recessão The Wall Street Journal

As bolsas e os rendimentos dos títulos do Tesouro americano caíram fortemente ontem por causa do crescente temor de que a economia dos Estados Unidos possa estar perdendo fôlego.

A Média Industrial Dow Jones baixou 2,6%, fechando abaixo da barreira psicológica dos 10.000 pontos, por causa da queda na confiança do consumidor americano, da revisão para baixo de um indicador econômico chinês e da preocupação com a saúde dos bancos europeus. Os rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro americano caíram para menos de 3% e atingiram o nível mais baixo desde abril de 2009, um sinal de que os investidores estavam buscando aplicações seguras.

O Conference Board, um centro de pesquisas sem fins lucrativos, informou ontem que a confiança do consumidor americano caiu em junho, apagando os ganhos dos dois meses anteriores. O índice caiu para 52,9, ante os 62,7 do mês anterior, que também foi revisado para baixo, com um aumento do número de famílias que dizem que "está difícil" conseguir empregos.

Antes, o Conference Board fez uma significativa revisão para baixo do indicador antecedente de crescimento na economia chinesa. Os investidores também ficaram tensos por conta do fim do programa do Banco Central Europeu de ampliar os financiamentos de 12 meses aos bancos do continente.

Uma recessão em forma de "W" ainda é amplamente vista como improvável. Mas a queda na confiança é apenas o sinal mais recente que sugere que a economia pode perder fôlego no segundo semestre de 2010 e, talvez, crescer mais lentamente que na primeira metade de 2011.

O ritmo lento de criação de empregos é um ponto crucial do problema. Acredita-se que o relatório do Departamento de Trabalho, que sai na sexta-feira, mostre um aumento nas contratações do setor privado em junho, ao mesmo tempo em que o departamento do censo americano dispensa os trabalhadores temporários que contratou para fazer o levantamento da população do país. Mas os sinais de obstáculos econômicos sugerem que o crescimento futuro do emprego pode ser fraco.

Entre os obstáculos estão os sinais de que o mercado imobiliário ruma para um novo período de desaquecimento e de que surgem condições financeiras menos capazes de estimular o crescimento, já que as ações estão em queda, o dólar está se fortalecendo e o mercado de crédito ainda enfrenta dificuldades. O cenário mundial se tornou mais incerto, com os governos na Europa, como no Reino Unido e na Alemanha, voltando suas atenções à redução dos déficits orçamentários.

Existem razões para otimismo. A renda pessoal está em alta, o que dá sustentação a um crescimento do consumo das famílias. Os fluxos de caixas das empresas estão fortes, contribuindo para os investimentos e as contratações. E a recuperação industrial tem sido robusta, ainda que possa perder fôlego por conta da reposição lenta dos estoques.

A economia americana cresceu a uma taxa anualizada de 2,7% no primeiro trimestre, e, na média, economistas ouvidos pelo Wall Street Journal acreditam que ela se expandiu a um ritmo anualizado de 3,6% no segundo trimestre, que termina hoje. A previsão média é de uma taxa modesta de crescimento de 3% no segundo semestre, mas alguns analistas consideram essa previsão otimista.

"Estou ficando mais pessimista em relação à capacidade da economia de voltar a se acelerar no quarto trimestre e no primeiro semestre de 2011", diz Paul Kasriel, economista-chefe do banco Northern Trust, de Chicago. Ele espera que a economia cresça a uma taxa anualizada de cerca de 2,5% no segundo semestre.

O presidente americano, Barack Obama, expressou otimismo em relação às perspectivas depois de um encontro ontem pela manhã com Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA. Obama afirmou que ele e Bernanke "compartilham da opinião de que a economia está se fortalecendo", lembrando que os EUA foram de uma perda mensal de 750.000 empregos no ano passado para cinco meses de crescimento do emprego.

Uma coisa que pesa sobre a economia é o mercado imobiliário, que, depois de se estabilizar, está novamente perdendo força, agora que o incentivo do governo à compra de casas foi retirado.

Mark Petit, dono da M&M Contractors, uma firma de Salem, no Estado de Massachusetts, afirmou que viu um aumento expressivo na demanda por serviços de construção de telhados e outros negócios em março, abril e maio, quando as pessoas fizeram consertos de problemas causados pelas chuvas e arrumaram suas casas para vendê-las. Mas, em junho, os negócios ficaram 20% abaixo do nível do ano passado. "Eu estava muito ocupado, mas não achava que isso iria durar", diz ele. "Infelizmente, eu estava certo."

Pausas não são incomuns no início de uma recuperação. Depois de se recuperar da recessão no fim de 2001 e início de 2002, a economia americana teve um período de 12 meses em que se expandiu a uma taxa anualizada de mero 1,5%, suscitando temores de que pudesse voltar à recessão. No fim de 1991, o crescimento perdeu força depois que a recuperação já tinha começado.

Nos últimos 12 meses, a economia teve um início de retomada mais forte do que em 2002.

A incerteza está pesando sobre os executivos de empresas. A Lincoln Paper and Tissue, que fica na cidade de Lincoln, no Estado do Maine, está agora operando a plena capacidade. Mas não planeja expandir as operações ou ampliar o seu quadro de 390 funcionários. "Nós estamos nos segurando e não estamos contemplando nenhuma grande mudança agora", diz o presidente, Keith Van Scooter.

Autoridades do Fed acreditam que os fatores positivos devem superar as preocupações e manter a recuperação nos trilhos, o que deixaria o banco central em condições de começar a elevar a taxa de juro de curto prazo em algum momento no futuro. Um tropeço criaria um dilema para as autoridades do Fed. As taxas de juros estão perto de zero, de modo que eles não têm a ferramenta tradicional de cortar os juros para combater uma economia vacilante, se necessário.

O governo Obama ainda está fazendo pressão por uma extensão dos benefícios a trabalhadores que foram dispensados, medida que está parada no Senado. Os deputados do Partido Democrata, de Obama, não conseguiram aprovar uma extensão dos benefícios de desemprego ontem.

O mercado imobiliário serviu como um lembrete do impacto potencial da remoção da ajuda federal numa economia frágil. Em maio, depois do fim dos incentivos fiscais para a compra de imóveis, o número de obras residenciais iniciadas caiu 10%, numa taxa com ajuste sazonal, e as vendas de residências novas despencaram 33%, para uma taxa anualizada de 300.000 - a menor já registrada.

A perda do dinheiro do estímulo também atinge governos estaduais e municipais, que enfrentam um déficit público combinado de cerca de US$ 137 bilhões este ano e US$ 144 bilhões em 2011. Alguns Estados já gastaram a maior parte dos recursos federais de educação reservados para os anos escolares de 2009-2010 e 2010-2011. Sem mais dinheiro por receber, eles têm cortado serviços e demitido dezenas de milhares de professores.