Título: Preço do minério spot volta a subir
Autor: Rosas, Rafael; Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2010, Empresas, p. B8
O preço do minério de ferro no mercado spot da China subiu ontem 3%, passando de US$ 117 para US$ 121 a tonelada, num movimento que surpreendeu o mercado. Este foi o primeiro sinal de reversão de tendência de queda do produto no mercado livre chinês depois de 50 dias em trajetória de baixa e ocorreu antes do esperado pelas mineradoras. A expectativa de Cláudio Alves, diretor estratégico da Vale, e de Roger Downey, presidente executivo da MMX, era de que a recuperação do spot só ocorreria no ultimo trimestre do ano.
Depois da morte do "benchmark", antigo sistema anual de fixação do preço de referência dos contratos de fornecimento de longo prazo de minério para as siderúrgicas usado até 2009, o mercado spot chinês passou a ter grande importancia na formação de preço do minério de ferro. Em 2010, o preço do minério no mercado livre chinês passou a balizar os reajustes trimestrais do produto vendido pela Vale para seus clientes. A média do valor da tonelada do spot num período de três meses serve de base para calculo do novo preço da Vale no trimestre seguinte, descontado o frete e levado em conta o teor de ferro no insumo.
Neste terceiro trimestre, como foi reconhecido por Alves, durante entrevista no seminário sobre mineração e siderurgia organizado pelo CRU Group, o preço praticado nos contratos da Vale estão acima do preço do spot. O executivo, que participou de uma mesa de debates no seminário, rechaçou a ideia de vender minério a preço do mercado livre para clientes de longo prazo, alegando que isto derrubaria o sistema de reajustes trimestrais.
"Se trabalharmos com média, isso significa que às vezes a média estará inferior ao spot, como no segundo trimestre, e haverá épocas em que estará superior ao spot, como agora. Pode ser que no próximo trimestre a relação se inverta novamente. É natural do sistema. Se nossos clientes desejam ter sistema e contratos de longo prazo, temos que ter regras claras de ambos os lados", afirmou Alves.
Segundo ele, o mercado está aquecido e a Vale hoje está operando com capacidade máxima de produção, em torno de 300 milhões de toneladas anuais de minério de ferro. A empresa, disse, trabalha para conseguir as licenças ambientais para o projeto de Serra Sul, na província de Carajás, que deverá começar a operar entre 2014 a 2015, iniciando uma escalada de produção que vai somar mais 90 milhões de toneladas à capacidade de minério de ferro da companhia. Para 2011, a expectativa é de expansões marginais em algumas minas, elevando a capacidade de produção da Vale em cerca de 20 milhões de toneladas anuais.
Nem o diretor da Vale nem o presidente da MMX quiseram fazer projeções sobre o nível de recuperação que poderá ser atingido pelo minério no mercado spot até o último trimestre do ano. "Não tenho bola de cristal", afirmou Alves, para quem a Ásia, especialmente a China, continuará a puxar a demanda por minério nos próximos anos. A avaliação de Downey é semelhante. Ele espera para o fim do ano uma retomada forte deste mercado.
A volatilidade do mercado de minério de ferro, porém, levou Philip Tomlinson, consultor da CRU Strategies, que participou do seminário, a prever que no longo prazo o atual sistema de reajuste trimestral do produto pode se transformar em uma precificação mensal, o que poderia ser acompanhado pelo setor siderúrgico. O diretor da Vale, indagado sobre essa possibilidade, não vê demanda que altere o sistema atual de precificação trimestral, mas reconheceu que há uma tensão entre o preço do aço e o preço do minério, uma defasagem porque a volatilidade é realmente muito grande. "Quando a volatilidade for menor, a tensão diminui", avaliou.
Analistas de mineração e siderurgia de bancos trabalham com uma perspectiva de manutenção dos preços do minério de ferro na faixa de US$ 100 nos próximos três anos. O cenário é bom para as mineradoras que terão seus caixas fortalecidos. A questão é saber se as siderúrgicas terão condição de ajustar seus preços ao aumento das matérias primas do aço. Calum Baker, da área de pesquisa do CRU, ao discorrer sobre o comportamento do preço das matérias primas para o aço projeta que os mercados de minério, carvão metalúrgico e coque vão continuar em alta e voláteis nos próximos dois a três anos, impulsionados pelo crescimento da China, cujo PIB deve crescer este ano mais de 10%.