Título: Infraestrutura apresenta demandas aos presidenciáveis
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2010, Política, p. A10

de São Paulo

Proclamado pelo governo como um segmento em plena expansão, a infraestrutura virou alvo de críticas, segundo pesquisa feita pelo Ibope com dirigentes de 211 empresas da iniciativa privada associadas à Câmara Americana de Comércio (Amcham). A maioria dos empresários e executivos vê barreiras ao investimento, informa o levantamento realizado entre 28 de abril e 17 de maio. A Amcham vai entregar aos candidatos à Presidência da República propostas a áreas onde identifica entraves aos negócios.

Os empresários enxergam desde problemas no licenciamento ambiental à falta de regras e à limitação de crédito. "Existe uma janela de oportunidades para o Brasil, mas tem que melhorar a infraestrutura", disse o consultor Maurício Giardello, da Price Waterhouse, em seminário da Amcham. O consultor citou a Copa do Mundo e as Olimpíadas, além da exploração das reservas de petróleo do pré-sal e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como possibilidades de crescimento do país.

Segundo Giardello, o Brasil deve apresentar o investimento mais baixo neste ano em comparação aos demais países dos Brics, conforme projeção do Business Monitor International, de US$ 50 bilhões. O valor é inferior ao previsto para China (US$ 154 bilhões), Índia (US$ 61 bilhões) e Rússia (US$ 55 bilhões). O consultor chamou a atenção para a burocracia que atrasa o andamento dos projetos e aumenta os custos. Um empreendimento de geração de energia elétrica no Brasil, por exemplo, demora 6,5 anos para entrar em operação, prazo 30% acima ao dos Estados Unidos.

O presidente da AES Brasil, Britaldo Soares, criticou o licenciamento ambiental e apontou a necessidade de o governo dar mais clareza sobre o retorno financeiro dos empreendimentos, baixar a carga tributária e diversificar a matriz energética. Pedro Parente, presidente da Bunge no Brasil e ex-ministro da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso, fez coro: "A situação é extremamente exagerada no meio ambiente", em referência ao licenciamento. Parente nota "uma certa xenofobia" quando o tema é investimento. "O que é relevante é a origem do capital? E a renda, os empregos e os impostos? É uma insegurança jurídica enorme", disse.

O ex-ministro que gerenciou a crise do "apagão" vê avanços no marco regulatório do setor de energia no governo petista, mas diz que a situação da infraestrutura "vai contra os interesses do país". "Essa é uma agenda extremamente apetitosa para qualquer candidato. Não precisa haver mudança constitucional, não há desgaste político."

Hélcio Tokeshi, presidente da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), foi voz rara na defesa do governo. "Infraestrutura precisa de maturação. Não dá para fazer de qualquer jeito", disse. A EBP, de capital público e privado, identifica projetos de infraestrutura do governo ao setor privado. "Temos que encarar o governo como síndico do nosso condomínio. Não estamos satisfeito, mas não basta reclamar, tem que ter mais participação da sociedade civil, como neste evento", disse Otávio Maia, da Price Waterhouse.