Título: BM&F Bovespa apresenta projeto Brain aos candidatos
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2010, Política, p. A13

A BM&F Bovespa está aproveitando a série de palestras que promove com candidatos a presidente da República em Nova York para apresentar a eles o seu projeto de transformar São Paulo em um centro financeiro regional, com importância comparável a que Hong Kong tem na Ásia.

Ontem, foi a vez de Marina Silva, do PV, em uma conversa muito rápida. Em fins de maio, o encontro foi com Dilma Rousseff, do PT. Ainda falta agendar a apresentação de José Serra, do PSDB, em Nova York. Os contatos da BM&F Bovespa têm incluído também os principais assessores econômicos dos candidatos, que devem ocupar postos importantes no próximo governo.

Por enquanto, não conseguiram o endosso explícito das propostas, mas também não é esse o objetivo. Boa parte do trabalho é tentar convencer a todos que, ao contrário das primeiras notícias que saíram sobre o assunto, o Projeto Ômega, conhecido também como Brain, não é apenas uma iniciativa de liberalização cambial.

"É um projeto muito abrangente e complexo que acabou sendo simplificado a apenas um tema, a liberalização cambial", afirma Paulo Oliveira, presidente do Brasil Investimentos e Negócios (Brain), uma iniciativa que reúne a Bovespa BM&F, a Febraban e a Andima para tocar o Projeto Omega. "A liberalização cambial não é o assunto mais importante."

As primeiras notícias que saíram sobre o projeto davam ênfase na necessidade de tornar o Real uma moeda conversível e internacional, para eliminar o risco cambial para os investidores que escolhem fazer as aplicações diretamente no Brasil, e não em outras praças financeiras.

Oliveira diz que o projeto é mais abrangente e inclui, por exemplo, formas de estimular o crescimento da poupança nacional. Há outros gargalos a serem vencidos, afirma, que vão desde a formação contínua de mão-de-obra especializada e garantir que a rede hoteleira tenha o tamanho adequado para dar suporte a um grande centro financeiro.

Quando ouviu as explicações sobre o projeto, a principal pergunta de Dilma foi como a Brain estava se articulando com outros setores econômicos, como os empresários. Alguns críticos dizem que o projeto é de interesse exclusivo dos mercados financeiros.

Nos últimos dois anos, afirma Oliveira, o grupo manteve reuniões com cerca de 150 diferentes interlocutores, incluindo empresários. Algumas das mais importantes federações industriais estão apoiando a ideia. O desenvolvimento do mercado de capitais, em tese, favorece as empresas, pois facilita a captação de recursos. Mas os empresários, de forma geral, estão interessados particularmente em saber como a taxa de câmbio seria afetada, prejudicando a competitivade das exportações.

Entre nomes que podem integrar um eventual governo Dilma, a Brain conversou com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e com o secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Coutinho, apontado como possível ministro da Fazenda, tem mostrado simpatia a algumas das propostas apresentadas.

Em uma apresentação em Washington na semana passada, Coutinho disse que o novo governo deverá trabalhar na reforma do mercado de capitais, para permitir que a poupança doméstica seja canalizada para o financiamento de longo prazo na economia. Uma preocupação, levantada por Barbosa, é o quanto a transformação de São Paulo num centro financeiro regional poderia deixar a economia suscetível a crises em episódios de fuga de capital. O Brain tem sustentado a tese de que, mantida o histórico recente de sólida regulação, os problemas podem ser evitados.

Antes, a Brain também havia trocado ideias com o vice de Marina, o empresário Guilherme Leal, da Natura. Também também falaram com Álvaro de Souza, ex-presidente do Citibank no Brasil, hoje tesoureiro da campanha de Marina. A candidata designou o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que elabora o projeto econômico da chapa, para colher mais informações sobre o projeto.(A.R.)