Título: Em NY, investidores questionam Marina sobre vetos ambientais à infraestrutura
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2010, Política, p. A13

Essa era uma das maiores preocupações ouvidas pelo Valor de investidores estrangeiros presentes em palestra com Marina organizada pela Bovespa BM&F. Eles não tinham receios sobre o chamado tripé da política econômica, formado pelo câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário, mas queriam saber se a capacidade de crescimento da economia seria afetada pelo atraso dos investimentos.

Marina se colocou como alguém que, como ministra do meio-ambiente no governo Luiz Inácio Lula da Silva, empenhou-se para aprovar megaprojetos, incluindo a transposição do rio São Francisco, a construção da BR-163 entre Cuiabá e Santarém e os projetos hidrelétricos do Rio Madeira. "Ninguém melhor para levar projetos dessa magnitude adiante do que quem conhece como viabilizá-los."

Ao Valor , o assessor econômico de Marina, Eduardo Gannetti da Fonseca, argumentou que a obediência criteriosa das leis ambientais diminui os custos e incertezas para investidores, ao minimizar os riscos de ações judiciais contra os projetos. "Viabilizei a BR-163 sem nenhum questionamento do Ministério Público", disse Marina.

"Parece bem razoável respeitar as regras ambientais para evitar o risco jurídico", concordou, depois da apresentação, o gestor de um importante fundo americano de investimentos com aplicações no Brasil. "Precisa ver o quanto vai demorar para conceder essas licenças ambientais." Marina reconheceu, em sua apresentação, que será necessário aperfeiçoar a máquina pública para dar respostas mais rápidas.

Uma das preocupações de Marina em Nova York era se apresentar como uma candidata com uma agenda que vai além dos temas ambientais. A única vez que foi aplaudida, porém, foi justamente quando, respondendo a uma pergunta, criticou uma proposta de mudança do código florestal que concede anistia a desmatadores. "Quem cumpriu a lei não merece ver o concorrente que descumpriu ser perdoado", afirmou. Pouco menos de 200 pessoas compareceram ao evento.

Há dúvidas no mercado sobre como seria a política fiscal de um eventual governo Dilma. Quanto a Serra, que ainda não veio a Nova York, a principal incerteza é sobre o grau de interferência nas políticas monetária e cambial. "O compromisso com a estabilidade é um valor inegociável", declarou Marina. E foi além, dizendo que irá usar uma política fiscal ativa no para aliviar parte da sobrecarga da política monetária. "Queremos controlar a inflação pela redução do gasto público."

Também se comprometeu em reduzir o gasto corrente do governo para abrir espaço para investimentos públicos. "O dreno fiscal força o BC a manter os juros altos para garantir um precário equilíbrio entre oferta e demanda." Marina indicou que pretende ampliar a participação do mercado, regulado pelo poder público, em infraestrutura. "A atração de capital privado é imprescindível", afirmou Marina. A candidata do PV pretende elaborar nova agenda de reformas microeconômicas.

Essa maior ênfase no setor privado, em tese, deveria soar como música para o mercado financeiro, ajudando a diferenciar Marina dos demais candidatos. Dilma, por exemplo, é associada com uma maior presença do governo na economia, liderando o desenvolvimento.

William Landers, da Blackrock, um dos maiores investidores estrangeiros em ações da Petrobras, avalia que os candidatos são muito iguais. "Todos defendem os pilares básicos da política econômica, por isso não há motivos para crises nessas eleições", afirma ele, que assistiu às duas apresentações feitas até agora. Landers diz que a agenda fiscal de Marina é ambiciosa, mas pondera que é difícil avaliar a credibilidade das propostas enquanto não forem conhecidos os detalhes.

Em entrevista, Marina foi questionada como pretendia cortar gastos correntes - se pela contenção de reajustes do funcionalismo, suspensão de novas contratações ou alongamento da idade mínima para aposentadorias. Ela, porém, não forneceu detalhes sobre esses pontos, afirmando que, por enquanto, seu programa apenas estabeleceu o princípio geral de corte de gastos.