Título: Chávez rompe relações com a Colômbia, mas crise pode durar pouco
Autor: Moura , Marcos
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2010, Internacional, p. A15

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rompeu relações diplomáticas ontem com a Colômbia. O anúncio foi feito pouco depois de o embaixador da Colômbia na Organização dos Estados Americanos (OEA) ter apresentado supostas provas de que guerrilheiros colombianos mantêm acampamentos em solo venezuelano. Ao negar as acusações, Chávez chegou a dizer lamentaria ter de entrar numa guerra com o país vizinho, mas que se necessário o faria.

O venezuelano, no entanto, indicou que a crise bilateral tem prazo para acabar. Segundo ele, sua expectativa é que o presidente eleito, Juan Manuel Santos, que toma posse no dia 7, "contribua para que se retome o caminho da relação, para que não ocorram coisas mais graves". Santos disse que não se pronunciaria sobre o episódio.

Analistas colombianos se indagavam ontem por que o presidente Álvaro Uribe resolveu apresentar, a poucos dias de deixar o cargo, supostas evidências de que a Venezuela virou refúgio de grupos armados colombianos. E por que diante das delegações da OEA?

Uma resposta é que Uribe agiu assim para atender apenas a interesses de política interna. Em resumo, para tentar reverter uma imagem que vinha se difundindo entre colombianos de que ele não foi capaz ou que não quis melhorar as relações com um parceiro comercial-chave, a Venezuela, por meras diferenças ideológicas e pessoais.

Há pelo menos dois anos, o presidente colombiano, aliado dos EUA e desafeto de Chávez, vem dizendo que há evidências de que a guerrilha tem abrigo garantido no vizinho. Ele vinha apresentando as supostas evidências pelas vias diplomáticas. Segundo a imprensa colombiana, houve duas ou três trocas de correspondência oficial entre os países, nas quais a Colômbia enviou dados sobre onde estariam as bases dos guerrilheiros. No fim do ano passado, na que teria sido a última dessas trocas de cartas, a Venezuela teria dito que seguiu as pistas, mas que nada encontrou.

Responsável por uma política de segurança que reduziu consideravelmente o poder de fogo de grupos armados irregulares, Uribe elegeu seu sucessor - Santos - em grande parte graças à melhora nos índices de violência.

Mas, desde que foi eleito, o ex-ministro da Defesa tem tomado medidas que parecem calculadas para fazer com que sua imagem se distancie da de seu padrinho. Ele indicou para três ministérios pessoas críticas de Uribe. E, no caso da Venezuela, mostrou-se muito mais amistoso e interessado em normalizar as relações. Após anos de desentendimentos e críticas públicas entre Chávez e Uribe, a Venezuela congelou, em meados de 2009, as importações de produtos vindos do outro lado da fronteira - prejudicando fatia importante das exportações da Colômbia. Isso desagradou empresário colombianos.

Segundo analistas, essas e outras iniciativas pareciam enviar uma mensagem ao eleitorado: a de que Santos, mesmo sendo um classificado como direitista, será capaz de dialogar com Chávez, de restaurar os laços comerciais e, enfim, de desfazer o clima de animosidade que marcou boa parte dos oito anos de mandato de Uribe.

Ao apresentar fotos, vídeos e coordenadas de localização dos guerrilheiros e dirigentes das Farc e do ELN em supostos rincões venezulanos, o governo Uribe, na avaliação de alguns comentaristas colombianos, quis tentar marcar a agenda do sucessor e reiterar que as relações com Chávez se deterioraram não por conta de inabilidade política do presidente, mas porque o líder venezuelano é mesmo um risco para a segurança colombiana.