Título: Analistas ajustam projeções para juros e IPCA, mas esperam explicações do BC
Autor: Bittencort, Angela
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2010, Brasil, p. A2

O mercado começou a ajustar as projeções de aperto monetário, levando em conta a desaceleração no aumento da taxa Selic, de 0,75 para 0,50 ponto percentual, confirmada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada. Apesar da chiadeira com o resultado, que contrariou a expectativa de economistas que esperam elevação maior da taxa, prevaleceu o bom senso e o mercado não promoveu uma retaliação ao Banco Central, que pode estar vendo sinais de acomodação mais adiante, ainda não captados pelo mercado. A expectativa é de que a ata da última reunião do colegiado do BC detalhe esses sinais.

A pesquisa Focus, divulgada ontem, revelou um ajuste de projeções consoante com a decisão do Copom, ainda que discretas. Está em aberto, portanto, a possibilidade de revisões mais acentuadas a partir da divulgação da ata do Copom, na quinta-feira. Considerando a mediana do mercado, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu pela terceira semana consecutiva, de 5,42% para 5,35% em 2010. Para 2011, foi mantida a estimativa de IPCA de 4,80%.

A projeção de Selic caiu de 12% para 11,75% ao ano para 2010 - taxa mantida para 2011 há seis semanas. Já a mediana das instituições Top 5, que apresentam maior grau de acerto na pesquisa do BC, mostrou alta nas projeções de IPCA, que passou de 5,48% para 5,49% para 2010, e de 4,80% para 4,98% para 2011. Nesse segmento, a Selic para 2010 recuou de 12,38% para 11,88%, subindo de 12% para 12,75% em 2011.

"Acreditamos que a ata que será divulgada na quinta-feira preencherá com detalhes os motivos para a mudança de postura do Copom. Os motivos devem ser enunciados e explicados e restará ao mercado assimilá-los ou não", afirma Tatiana Pinheiro, economista do banco Santander, para quem torna-se necessária uma modificação de texto "razoavelmente abrangente", que apresente a mudança de diagnóstico do BC e não apenas melhora na percepção de riscos à dinâmica inflacionária.

Tatiana elenca pontos que devem ser destacados na ata da última reunião: a descrição sobre a inflação corrente e a avaliação do BC sobre o efeito da inflação corrente na inflação no médio e longo prazo, a avaliação sobre o efeito da redução nas expectativas para o IPCA de 2010 a despeito do aumento das expectativas para a inflação em 12 meses, e, principalmente, as sinalizações sobre as projeções dos modelos de referência e de mercado para 2011. "Resta saber qual o efeito dessa nova avaliação sobre as projeções de inflação e política monetária do mercado", avalia.

Tatiana pondera que o mercado já reavaliou para baixo o ritmo e o tamanho do ciclo de aperto monetário. Contudo, ainda espera-se alta de 0,25 a 0,50 ponto percentual para a próxima reunião do Copom, em setembro. "Acreditamos, porém, que se a ata trouxer as alterações que consideramos necessárias, os preços no mercado de juros poderão sofrer uma segunda etapa de mudanças."

O banco Fator considerou modestos os ajustes de projeções na Focus, mas considera que esses ajustes devem prosseguir, dependendo dos argumentos que o Copom apresentar na ata da reunião.

O Fator também considerou acanhado o ajuste na expectativa do mercado para o IPCA. Isso decorre talvez, na avaliação do banco, pelas necessárias revisões no Produto Interno Bruto (PIB) para 2010, nem tanto no crescimento, mas na composição. "As revisões no PIB devem contemplar menos consumo e mais investimento, o que pode explicar menos pressão talvez já em 2010", afirma o banco.

A LCA Consultores calcula que a Selic deve subir mais 1 ponto percentual até o fim do ano e mais 0,50 ponto em 2011, distribuídos em duas altas de 0,25 ponto cada uma. A consultoria, que também foi surpreendida pela desaceleração no ajuste da Selic, entende que o ciclo de alta não foi encerrado com o aumento promovido na última reunião. Mas avalia que haverá um novo ritmo e, portanto, na próxima reunião do Copom, em 1º de setembro, a Selic deverá ser elevada em mais 0,50 ponto.

Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Safra de Investimento, considerando o comunicado divulgado pelo Copom no fim da reunião da quarta-feira, avalia que o ciclo de alta terminou em julho ou será encerrado na reunião de setembro. "Julgamos que o fluxo de indicadores, de inflação e de atividade, e de notícias nas próximas semanas seguirá benigno para o balanço de riscos para a inflação, colaborando para o término do ciclo", comenta Oliveira, para quem a mudança de ritmo no ajuste da Selic decorreu de súbita alteração do balanço de riscos para a inflação, dado o cenário desfavorável mostrado pelo Relatório de Inflação em junho.