Título: Venezuela manterá pressão comercial sobre a Colômbia
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2010, Internacional, p. A8
Dizendo-se disposto a buscar conciliação com a Colômbia, o governo venezuelano pretende, porém, manter pressão sobre os colombianos em um dos pontos mais sensíveis da relação bilateral: o comércio. Ontem, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolas Maduro, levou dados para sugerir que o Brasil amplie a fatia de mercado que já vem tomando das exportações colombianas ao país vizinho.
"Tivemos situações difíceis nos últimos dias, mas deixamos claro que o governo do comandante Hugo Chávez defende a integração sul-americana e a manutenção do continente como uma região de paz", disse Maduro. Ele informou que visitará outros países do continente em preparação para a reunião de chanceleres convocada pelo Equador para a quinta, na tentativa de conciliar os países, em conflito por acusações colombianas de conivência da Venezuela com a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Maduro não chegou a comentar a sugestão dos venezuelanos para ampliação das relações comerciais com o Brasil, em substituição à Colômbia. Os atritos entre os dois países já provocaram uma queda nas vendas colombianas para a Venezuela, de US$ 6 bilhões em 2008 para cerca de US$ 4 bilhões em 2009. Segundo a Colômbia, as exportações este ano devem cair ainda mais, para até US$ 1,5 bilhão.
A Colômbia tem aumentado exportações a outros parceiros e mostra crescimento econômico. Os mais afetados pela briga com a Venezuela são os pequenos e médios empresários, principamente os localizados na fronteira, que sofreram uma perda entre 200 mil a 350 mil empregos neste ano, segundo o governo colombiano.
Ameaças de rompimento e de conflito bélico seguidas de reconciliação tornaram-se padrão durante os governos de Hugo Chávez, na Venezuela, e Álvaro Uribe, na Colômbia. O último conflito ocorreu na semana passada, com a divulgação, em reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), de documentos e imagens que supostamente comprovariam a existência de acampamentos das Farc em território venezuelano.
Chávez acusou Uribe de calúnia e de criar motivos para uma eventual invasão da Venezuela (em 2008, para combater acampamentos da Farc, a Colômbia invadiu com tropas e aviões território do Equador, gerando uma crise diplomática entre os dois países que envolveu outros vizinhos, entre os quais a Venezuela). Lula telefonou a Chávez na semana passada para pedir-lhe que buscasse entendimento com a Colômbia. Uribe deixa o governo no dia 7 de agosto. Seu sucessor, o ex-ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, vem emitindo declarações conciliadoras - embora o próprio Santos já tenha se envolvido com discussões e insultos com Chávez, no passado.
Lula tenta fazer com que a Unasul sirva de instância para apaziguar os ânimos e garantir um acordo entre os dois governos. Ele estimulou o presidente da Unasul, Néstor Kirchner, a promover conversas entre os dois governos. Kirchner falou ontem com Santos e, na semana que vem, terá encontros com os dois presidentes. Maduro disse que pretende discutir com a região uma proposta de conciliação, a ser discutida na quinta, pelos ministros da Unasul.