Título: Com folga de capital mínimo, Brasil só precisará fazer alguns ajustes
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2010, Finanças, p. C1

Foi um jogo "duríssimo" para os principais bancos centrais e autoridades supervisoras alcançarem ontem o amplo acordo sobre definição de capital, tratamento de crédito de risco, índice de alavancagem e padrão global de liquidez. A batalha continuará em setembro, para definir os percentuais e confirmar os prazos de implementação até 2018. "A batalha central agora serão os percentuais (de capital e liquidez)", diz um participante do Comitê de Basileia de Supervisão Bancária.

Parecia difícil para negociadores apontar o maior ponto de discordância sobre as regras do sistema financeiro internacional para os próximos anos. É que em cada item os países se dividiam. Houve racha mesmo entre os europeus.

Embora o comunicado do comitê diga que todos os 27 membros tenham assinado os novos princípios sobre o chamado "tier 1" (nível 1) de capital (ações mais lucros retidos), as indicações eram de que a Alemanha teria deixado para só se comprometer formalmente mais para o fim do ano. A avaliação em Basileia, entre importante personalidade, era de que no geral prevaleceram as regras mais duras, impulsionadas por uma grande maioria de nações, inquietas com as consequências da recente crise financeira e econômica global.

Em todo caso, as discussões caminham para um atraso. A decisão final do pacote de reformas é previsto para novembro, na reunião do G-20, na Coreia do Sul. Ontem, já se falava em círculos de BCs, na Basileia, no final do ano - e daí é um pulo para mais tarde.

A expectativa é de que o Brasil é um dos países que mais rapidamente se enquadrará nas novas regras, já que o nível atual de capital mínimo está em 18%, bem além dos 11% que o país exige. O país deverá fazer "alguns ajustes", mas que não são considerados importantes no BC brasileiro.

Um dos itens divulgados ontem, de risco de crédito de contrapartes, tecnicamente complexo, vai levar a adoção de modelos internos pelas próprias instituições. Isso ocorrerá no Brasil a partir de 2012. Globalmente, pode significar aumento do requerimento de capital para efeito de risco de crédito.

O Comitê de Basileia de Supervisão Bancária definiu tambem que deve haver requerimento adicional para as exposições de bancos em grandes empresas. Na exigência para risco de contraparte, cujo peso da exposição era zero, agora vai ser entre 1 e 3. Esse parâmetro vai ser ainda calibrado nos próximos meses.

A reunião crucial de ontem foi a primeira depois da divulgação dos testes de estresse dos combalidos bancos europeus. O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, declarou-se satisfeito com os resultados.

O presidente do Banco Central da Espanha, Miguel Angel Ordonez, também insistiu que "seguramente" o teste impostos aos bancos deve restaurar a confiança no sistema financeiro do velho continente. Mas admitiu que a recuperação da confiança na zona euro precisa de mais trabalho além do que foi feito no setor financeiro. Insistiu na importância de redução "séria" dos déficits públicos e reforma dos mercados de trabalho.