Título: Emprego recorde na indústria
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2010, Economia, p. 11

Números de trabalhadores na produção já é maior do que antes da crise mundial. CNI diz que volume de salários sustenta o consumo sem gerar inflação

A indústria brasileira está avançando a passos cada vez mais largos. Pela primeira vez desde a recessão econômica desencadeada no fim de 2008 com o estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, as fábricas registram número maior de trabalhadores do que antes da crise. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o total de empregos no setor apresentou crescimento de 0,4% em relação a abril, confirmando o forte ritmo de expansão da atividade.

As perspectivas são promissoras. Como a indústria paga, na média, os melhores salários da economia, o consumo se manterá firme exigindo mais produção das empresas. O gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, ressaltou, porém, que não há nenhum risco de esse quadro resultar em pressões inflacionárias, exigindo um aperto maior na taxa de juros por parte do Banco Central. Há uma expansão da massa salarial do setor, mas moderada, que não gera inflação, assegurou.

O economista Henrique Santos, da Ativa Corretora, discorda dessa avaliação. Para ele, o incremento do poder aquisitivo dos trabalhadores deve se reverter em combustível para a elevação dos preços. A indústria deve ter taxas de crescimento (do emprego) menos robustas do que as atuais, mas, sem dúvida, influenciará a demanda doméstica e baterá na inflação. Tanto que o BC tem ressaltado este fato em seus recentes documentos, afirmou.

De acordo com a CNI, enquanto o emprego registrou a décima elevação seguida, a massa salarial avançou 1,6% entre abril e maio e 7,4% quando comparada a maio de 2009. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também divulgados ontem, confirmam a expansão de 0,3% da ocupação industrial em maio sobre abril e crescimento de 4,2% ante o mesmo mês de 2009. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) apontou que a indústria de transformação abriu, em maio, 62,2 mil vagas.

Rigidez O emprego foi uma das últimas variáveis a reagir ao fim da crise, segundo a CNI. Para Santos, essa defasagem entre a recuperação da produção e a recomposição do quadro de funcionários é resultado da burocracia e dos custos envolvidos na contratação e demissão de trabalhadores. As empresas acabam esperando um pouco, para ter a certeza de que as perspectivas são boas. Elas preferem primeiro aumentar a carga de trabalho e dar horas extras, para não correr o risco de gastarem para contratar e depois gastar mais para demitir, explicou o economista.

As horas trabalhadas cresceram 1% entre abril e maio e registraram avanço de 9,9% na comparação com maio do ano passado. Já as vendas da indústria apontaram expansão de 2,1% frente a abril e 13,9% ante maio de 2009. Mais uma vez, destacou a CNI, o impulso para o crescimento vem do consumo interno e compensa parte das perdas do setor exportador, que ainda enfrenta dificuldades em recompor o mercado externo deteriorado pela crise. Continuamos com o mercado doméstico em expansão, com o emprego se fortalecendo tanto na indústria quanto fora dela. Isso gera uma massa de salário e alimenta a produção, comentou Castelo Branco.

Investimento ajuda

A utilização da capacidade instalada (UCI(1)) na indústria brasileira interrompeu em maio a trajetória de crescimento observada a partir de fevereiro e recuou 0,5 ponto percentual, para 82,3% em maio, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O dado confirma a expectativa da própria instituição, que previu, a estabilização da taxa em torno deste patamar devido à maturação dos investimentos em novas fábricas e na expansão das unidades em funcionamento.

O recuo, aliado ao bom comportamento dos índices de preços ao consumidor, é uma boa notícia para o Banco Central, uma vez que menores taxas de ocupação da capacidade da indústria significam que o setor produtivo está abastecendo o mercado consumidor com relativa folga, diminuindo as pressões sobre a inflação. Na avaliação da CNI, o recuo foi positivo, ao contrário da queda da UCI registrada em 2009, motivada pela paralisação da indústria ante a crise. Para o gerente executivo de Política Econômica da instituição, Flávio Castelo Branco, com a continuidade da maturação dos investimentos, a tendência é de estabilidade no indicador.

Para o economista Henrique Santos, da Ativa Corretora, o recuo da UCI está mais relacionado a uma desaceleração da produção do que aos novos investimentos. A indústria retomou os projetos de expansão com força a partir do terceiro trimestre do ano passado. Pode haver algum reflexo já, mas a maturação dos investimentos vai aparecer nos próximos meses, comentou. Ele destacou ainda que, no curto prazo, os investimentos como a fabricação de maquinários e de peças industriais tendem a pressionar a inflação, porque aquecem o consumo. (GC)

1 - Sinal de vitalidade A utilização da capacidade instalada mede a capacidade produtiva da indústria, incluindo toda a infraestrutura usada na fabricação dos produtos. Os empresários se programam para manter a UCI em patamar elevado, mas distante dos 100%, que significariam o estrangulamento da capacidade produtiva. Níveis muito baixos também não são desejáveis, pois indicam grande ociosidade do parque fabril, um desastre para a economia.

Merck corta 14 mil vagas

Gustavo Henrique Braga

O laboratório farmacêutico norte-americano Merck, que se fundiu com o Schering-Plough, anunciou ontem o fechamento de oito instalações de pesquisa e de oito unidades de produção distribuídas em vários países, entre eles o Brasil. A medida resultará no fechamento de 15% dos postos de trabalho da empresa, ou seja, na demissão de cerca de 14 mil pessoas no mundo. De acordo com o comunicado oficial, a decisão faz parte de um plano para reestruturação global para integrar as operações na área de pesquisa e desenvolvimento, manufatura e outros negócios.

No Brasil, três fábricas podem ser afetadas: uma no bairro paulistano de Santo Amaro, outra em Sousas (Campinas) e a terceira em Barueri (SP). Juntas, as três contam com cerca de 1.650 funcionários. A maior ameaçada é a unidade de Santo Amaro, com 270 empregados. Segundo a Merck, antes do fechamento, será feito um esforço para vender a unidade. Mas, caso a negociação não seja efetivada, o local será fechado até 2012. A empresa conta com mais três unidades distribuídas entre São Paulo e Ceará, especializadas em saúde animal, que somam cerca de 500 funcionários, mas que não serão afetadas pelas medidas administrativas.

A Merck se fundiu com a Schering-Plough em 2009, criando o segundo maior laboratório do mundo, atrás somente da Pfizer. O grupo tem cerca 106 mil funcionários distribuídos por 140 países. Além da fábrica em Santo Amaro, serão fechadas unidades de produção na Argentina, México, Itália, Portugal, Cingapura e Flórida (EUA), bem como as instituições de pesquisa na Alemanha, Canadá, Dinamarca, Escócia, Holanda e Massachusetts (EUA).

As aquisições e fusões de laboratórios estão em alta no mercado brasileiro. O destaque nacional é a Hypermarcas, que trabalha com a estratégia clara de crescer por meio de aquisições. O histórico da empresa inclui a compra de gigantes como a Neoquímica, avaliada em R$ 1,3 bilhão, e diversas marcas, como a Benegrip, Apracur, Doril, Lisador, Engov e Gelol. Ao mesmo tempo, companhias como a Novartis e a GlaxoSmithKline, além da Sanofi-Aventis, estão avançando no segmento de medicamentos genéricos à medida que enfrentam a maior perda de proteção de patentes da história. Algo que já acontece fora do país.