Título: Fundos estatizados deram poder sobre empresas
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2010, Internacional, p. A9

A estatização das administradoras dos fundos de pensão, no fim de 2008, permitiu ao governo argentino entrar na gestão de algumas das principais empresas do país, incluindo bancos, grandes indústrias e concessionárias de serviços públicos privatizados na década anterior.

Em um ano de forte recuperação econômica, o governo espera receber quase 600 milhões de pesos em dividendos, por causa das participações acionárias nessas empresas. São ações compradas pelos fundos para diversificar os investimentos de seus contribuintes e que passaram às mãos do Estado com a reestatização do regime previdenciário.

Nem companhias brasileiras escaparam. O governo detém participação de 6,74% no capital social da Petrobras Argentina, de 14,66% do Banco Patagônia (comprado neste ano pelo Banco do Brasil) e de 8,97% no frigorífico Quickfood (controlado pela Marfrig). Também tem participação residual, de 0,012%, na Alpargatas (hoje da Camargo Corrêa). Mas esse pequeno percentual é suficiente para impedir os planos da empresa brasileira de fechar o capital da Alpargatas, como ela desejava.

"Em alguns casos, já houve nítidos conflitos de interesses", diz a economista Soledad Pérez Duhalde, da Abeceb. Ela lembra a resistência da Techint, um dos principais grupos de capital nacional, em incorporar um conselheiro indicado pelo governo na administração da fabricante de aço Siderar. A praxe nas empresas, entretanto, é tratar esses conflitos nos bastidores e evitar críticas ao governo.

Uma das raras exceções foi a Telecom Italia, controladora da Telecom Argentina, dona de metade do mercado de telefonia fixa no país e de 35% das operações de celulares. Na estrutura societária da operadora, os italianos detêm o controle, mas a Anses herdou 25% das ações da Telecom Argentina - última companhia da estrutura.

"O papel que terá o governo, por meio da Anses, em realizar investimentos em companhias que participam do mercado de capitais é pouco claro, devido à ausência de políticas claras estabelecidas (a respeito)", afirma-se no balanço. A empresa conseguiu resistir, até agora, às indicações da Anses para compor seu conselho. "O critério de seleção para a escolha das pessoas que se nomeiam nos conselhos de administração ainda é desconhecido", acrescentou a operadora.

Há duas semanas, a cúpula da Anses informou, em audiência pública no Senado, que não pretende vender, pelo menos por enquanto, suas participações acionárias nessas companhias.