Título: Bancos públicos dão crédito ao pré-sal
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2010, Finanças, p. C5

Os bancos públicos entraram com força no pré-sal. Depois de o Banco do Brasil estruturar uma área para atuar com empresas fornecedoras da Petrobras, agora é a vez da Caixa Econômica Federal criar uma superintendência regional específica para atender à cadeia de petróleo e voltar a conceder empréstimos diretamente para a estatal.

Os dois bancos estão interessados num setor que deve atrair US$ 220 bilhões nos próximos anos, segundo estimativas oficiais, e que movimenta cerca de 80 mil empresas dentro da cadeia produtiva do óleo e gás. De acordo com o superintendente da Caixa, Edalmo Porto Rangel, o próprio governo tem estimulado esse trabalho conjunto.

"As estatais brasileiras sempre tiveram uma certa falta de sincronia. De uns tempos para cá, o próprio governo tem determinado às estatais que trabalhem de uma maneira mais convergente, mais integrada, mais alinhada. Isso é positivo, porque BNDES, Caixa, Petrobras e Banco do Brasil são empresas de muita força."

A Superintendência Petrobras/BNDES, alocada num prédio próximo à estatal, foi criada em fevereiro para atuar no financiando desde pequenos fornecedoras até estaleiros interessados na expansão do setor. A nova divisão da Caixa já conta com R$ 2 bilhões em projetos concluídos ou em análise para este ano.

O relacionamento mais estreito entre a Caixa e a Petrobras começou em 2008, num episódio bastante criticado pelo mercado, quando a instituição financeira socorreu com R$ 2 bilhões a petroleira, que enfrentava problemas de liquidez. Desde então, a proximidade foi se ampliando, até a criação da área exclusivamente dedicada ao setor.

No mês passado, nova concessão foi feita à Petrobras, por meio de uma nota de crédito à exportação (NCE), também de R$ 2 bilhões - operação identificada pelo Banco Central como uma das grandes transações que puxaram os dados de empréstimos às empresas no último mês.

Já no Banco do Brasil, a área de petróleo e gás é mais antiga, de 2007, e o saldo de empréstimos girava ao redor de R$ 2 bilhões, de acordo com dados do primeiro trimestre, diz Walter Malieni, diretor de crédito. O BB também tem R$ 2,5 bilhões em operações com funding do Fundo da Marinha Mercante (FMM) - recentemente capitalizado pela União.

O BB tem mais experiência em financiar grande projetos. A Caixa, ao contrário, sempre trabalhou repassando recursos para obras já iniciadas, como na construção civil, por exemplo. Para financiamento da infraestrutura de portos e navios, no entanto, a instituição terá de adiantar recursos, coisa que nunca fez.

Para dar conta da nova missão, a Caixa prepara o primeiro empréstimo da sua história com créditos a performar, que deve sair em setembro. "A área de risco está avaliando como fazer. Temos três pilotos com empresas para testar a solução. Até setembro devemos começar a usar a nova modelagem tanto com recursos próprios quando de repasses do BNDES", explica Rangel.

O foco, num primeiro momento, serão pequenas e médias empresas, mas a instituição também pretende concluir, até o próximo mês, a filiação ao FMM, para financiar operações de grande porte, como estaleiros. "Começam a estudar os projetos e avaliar prazos, carência e taxas", continua Rangel.

Ainda assim, esses recursos não serão suficientes, diz Rangel, e a Caixa também estuda formas alternativas de funding. "Mesmo se os bancos se unissem, o crédito típico apenas não seria suficiente para financiar os investimentos do pré-sal. Vamos ter de buscar recursos no mercado de capitais, com outras engenharia financeiras", afirma.

O primeiro Fundo de Investimento em Participações (FIP), de R$ 400 milhões, já está em operação para financiar a construção de sondas. Um novo fundo, de R$ 1,5 bilhão, deve sair até setembro, com aplicações de investidores institucionais, para atuar em todo o setor de óleo e gás.

A Caixa quer ainda fomentar o desenvolvimento urbano das regiões com exploração de petróleo para evitar que o fenômeno de degradação ocorra nas cidades onde a exploração será intensa. Para isso a instituição quer financiar a infraestrutura e a habitação em locais onde serão construídos estaleiros e complexos petroquímicos, como Suape, Rio Grande, Niterói, Natal, Salvador, entre outros.

Mesmo com todo o esforço dos bancos públicos, os investimentos destinados ao setor deram uma esfriada nas últimas semanas, por causa do adiamento da oferta de ações da Petrobras. "Os investimentos vão depender da capacidade de investimento da Petrobras. Há um burburinho porque o pessoal quer entender como fica a situação", diz uma fonte de mercado.