Título: FMI vê salto de 7,1% no Brasil
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Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2010, Economia, p. 13

Entidade revê para cima crescimento mundial, mas alerta para perigos provocados pelas turbulências financeiras e redução do comércio

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou de 4% para 4,6% sua perspectiva de crescimento mundial para 2010 e descartou a possibilidade de uma nova recessão mundial, mas advertiu que a pressão criada pela dívida pública nos países europeus pode gerar desequilíbrios financeiros. O Fundo também revisou para cima o crescimento do Brasil, que ficou em 7,1%.

Quando prevemos que a recuperação vai continuar, fica claro, por outro lado, que os riscos também aumentaram acentuadamente, disse Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI.

Embora em 2010 o mundo esteja crescendo mais do que o previsto inicialmente, a instituição manteve em 4,3% a projeção para 2011. Para a entidade, o crescimento mundial continuará sendo sustentado em médio prazo pelos países emergentes, principalmente na Ásia e na América Latina, que crescerá 4,8% (4% pelo prognóstico anterior) em 2010 e 4%, sem variações, em 2011. O Brasil terá um crescimento de 7,1% em 2010 (5,9%) e o México de 4,5% (4,2%).

Reviravolta O estudo Perspectivas da Economia Mundial mostra que o primeiro semestre de 2010 foi melhor que o previsto. No entanto, os riscos, que estavam em baixa, aumentaram drasticamente em meio ao ressurgimento das turbulências financeiras, disse o documento. Nesse contexto, os novos prognósticos dependem da implementação de políticas orientadas a restabelecer a confiança e a estabilidade, particularmente na Zona do Euro, acrescentou.

As medidas de política econômica aplicadas pelas economias avançadas deveriam centrar-se numa consolidação fiscal que inspire confiança, recomendou o estudo. Os temores de um não pagamento da dívida por parte de algum dos países europeus com piores taxas de crescimento, principalmente a Grécia, Espanha ou Portugal, não se dissipam, apesar do apoio dos sócios mais importantes da Zona do Euro e do fundo de ajuda organizado pelo FMI.

A oferta de crédito bancário poderá se reduzir devido à maior incerteza sobre a exposição do setor financeiro ao risco soberano, assim como ao aumento dos custos do financiamento, especialmente na Europa, previu os economistas. Apesar de ser partidário da austeridade, o Fundo reconhece também que a consolidação fiscal poderá reduzir a demanda interna.

Deficit menor De acordo com o documento, a redução dos deficits públicos empreendida pelos países europeus reduzirá em 0,25 ponto percentual o crescimento nessa região em 2011. A Zona do Euro crescerá 1% em 2010 (sem mudanças) e 1,3% em 2011 (0,25 ponto percentual a menos).

Esse desempenho ruim arrastará para baixo o crescimento nos Estados Unidos, previsto para 3,3% em 2010 (3,1%) e 2,9% em 2011 (2,6%), explicou o Fundo. Os efeitos de contágio de um crescimento negativo em relação a outros países e regiões poderão ser importantes devido aos vínculos comerciais e financeiros, ressaltou o estudo.

Os riscos em baixa se acentuaram drasticamente. No curto prazo, o principal risco é uma escalada das tensões e o contágio financeiro, trouxe o documento. Também existem riscos derivados da incerteza em relação às reformas regulatórias e seu impacto potencial no crédito bancário e na atividade econômica em geral.

EUA precisam ajustar contas O FMI pediu aos Estados Unidos que conduzam seu deficit orçamentário por um caminho sustentável, que não prejudique sua recuperação econômica. O desafio principal é desenvolver uma estratégia fiscal confiável para assegurar que a dívida pública seja levada e vista como levada por um caminho sustentável sem colocar em risco a recuperação, afirmou o FMI em seu relatório. A instituição prevê um crescimento para os EUA de 3,3% em 2010 e 2,9% em 2011, e depois um crescimento entre 2,6% e 2,8% a cada ano entre 2012 e 2015.

Defesa do Mercosul

Bruxelas O chefe de comércio da União Europeia, Karel De Gucht, destacou os benefícios do possível acordo com os países do Mercosul, que enfrenta forte oposição de ambientalistas, agricultores e legisladores. Falando ao Parlamento Europeu em Estrasburgo, De Gucht disse que um acordo de livre comércio com o Mercosul Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai impulsionará as exportações de bens e serviços da UE e abrirá novos empregos no setor público.

A UE e o Mercosul negociaram por quase cinco anos entre 1999 e 2004 para estabelecer uma zona de livre comércio, mas não conseguiram um acordo em parte devido a divergências sobre os produtos agrícolas. Depois de anos de estagnação, espera-se que as conversações sejam retomadas em julho.

Se um acordo for atingido, seria criada a maior zona de livre comércio do mundo, com 750 milhões de pessoas e bens avaliados em 65 bilhões de euros (US$ 82 bilhões) por ano. A Comissão está ciente da sensibilidade da agricultura nessas negociações e levará esse elemento em conta durante as negociações, disse De Gucht aos parlamentares.

De Gucht afirmou que o acordo impulsionaria as exportações dos produtores de vinho, queijo, frutas e vegetais da UE.

Governo acusa Clarín

Buenos Aires O governo da Argentina encaminhou uma queixa criminal contra o JP Morgan e o Grupo Clarín, maior conglomerado de mídia do país. Buenos Aires acusa os grupos de cometerem fraude pela manipulação do preço da ação do Clarín, conta a imprensa. A reclamação feita pela unidade de informação financeira do governo, UIF, afirma que o JP Morgan e o Grupo Clarín sonegaram informações para inflarem o preço das ações do Clarín quando o grupo de mídia abriu seu capital em 2007.

O governo também acusa o Clarín de vender ações sobrevalorizadas para fundos de pensão do país. A imprensa local afirma que as ações foram vendidas primeiro a 35 pesos antes de despencarem para 9 pesos mais tarde. O Clarín não deu ao mercado informação correta e precisa, o que é fundamental para a definição dos preços das ações, afirmou o diretor da UIF, José Sbatella, na queixa citada pelo jornal La Nación. O JP Morgan organizou a oferta de ações, segundo o governo. Representantes do Clarín e do JPMorgan não estavam disponíveis para comentar o assunto.

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e seu marido e antecessor Nestor Kirchner, têm mantido discussões com o Clarín desde que o grupo de mídia criticou o confronto do governo com fazendeiros sobre exportações de grãos em 2008. A reclamação é baseada no testemunho de Hernan Arbizu, ex-executivo do JP Morgan preso em 2008 na Argentina por acusação criminal. Ele é acusado de roubar US$ 2,8 milhões de uma conta de cliente.