Título: Expansão do crédito perde fôlego em junho
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2010, Finanças, p. C10

A expansão do crédito perdeu fôlego no mês de junho e início de julho. Dados consolidados do Banco Central mostram taxas mais modestas do que as observadas em outros períodos. Ainda há dúvidas, no entanto, se a acomodação observada é uma tendência firme ou se a desaceleração é apenas pontual. "Os números mostram uma mudança no comportamento do crédito, com os primeiros sinais de acomodação. Vamos esperar os meses seguintes para confirmar se existe uma tendência", afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.

O saldo total de operações com recursos livres, que vinha crescendo a taxas cada vez mais altas, manteve o mesmo patamar de expansão do mês anterior: 1,8% em relação a maio. Mais expressiva ainda foi a redução do ritmo de crescimento das concessões para as pessoas físicas, que passou de uma expansão mensal de 1,7% para 0,9% em junho, em relação a maio. "Há uma tendência de queda desde abril e maio nas concessões para as famílias. Uma acomodação de fato", completou Lopes.

Nas linhas concedidas com recursos livres (que excluem crédito agrícola, crédito imobiliário e linhas do BNDES), a expansão dos primeiros quinze dias de julho foi ainda menor, passando de 1,9% para 1,8% na margem.

Por outro lado, os empréstimos para as empresas apresentaram uma ligeira aceleração no crescimento do estoque, que pulou de um patamar de expansão mensal de 1%, nos primeiros meses do ano, para 2% em maio e, novamente em alta, para 2,6% em junho. Segundo Lopes, o movimento foi puxado basicamente por operações fechadas com grandes empresas envolvendo valores elevados, em particular um empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa para a Petrobras.

Os dados mostram que o repique de crescimento do crédito corporativo está concentrado nas grandes corporações. As concessões realizadas nos últimos três meses com taxas prefixadas, tomadas primordialmente por pequenas e médias empresas, estão praticamente estáveis no ano e com retração de 2,3% no último trimestre. Já as liberações com juros flutuantes, tomada pelas grandes companhias, cresceram 5,5% no ano e 15,6% nos últimos três meses.

A percepção de desaceleração do crédito não é compartilhada pelo mercado. Segundo o executivo de um grande banco de varejo, nos primeiros dias de julho, a demanda tem sido muito parecida com o que se viu em junho e é sensivelmente crescente quando comparada ao mesmo mês do ano passado. Só o segmento de veículos é que apresentou algum freio, tendo esses portfólios refletido o efeito comum à sazonalidade, bem como do fim dos benefícios fiscais, que vigoraram até março.

A expectativa é de que o segundo semestre, com injeção de recursos do 13º salário, seja mais aquecido. Para cumprir a previsão de crescimento da economia a uma taxa de 7% neste ano, o executivo conta que há muita consulta de empresa média para levantar recursos para investimento. Já entre as grandes, com acesso a outras fontes de capital, o aperto monetário pode ter um peso maior nas decisões.

Daniel Zabloski, diretor do HSBC, também não vê motivos para se observar queda da demanda, especialmente no nicho de pequenas e médias empresas. A postura do banco, mais agressiva nessa área, também explica tal sentimento, reconhece. Ao fechar acordo para fazer credenciamento para a Cielo e propor a concentração dos recebimentos com cartões numa única conta, a proposta é alavancar o crédito em até oito vezes. Os critérios de aprovação também foram flexibilizados e um cliente que não conseguia dinheiro há cerca de um ano por causa do cadastro, agora encontra a porta aberta.

De todo modo, os números do BC confirmam que, ainda que haja alguma desaceleração, o volume de crédito continua rodando num patamar elevado. O estoque total de empréstimos atingiu R$ 1,529 trilhão, o equivalente a 45,7% do PIB, com expansão anual de 19,7%. A expansão, considerada ainda "expressiva" pelo Banco Central, continua sendo puxada pelos bancos públicos, contrariando expectativas por uma reação da banca privada. As instituições estatais tiveram expansão de 3,3% no mês de junho, contra 1% dos privados nacionais e de 1,3% dos estrangeiros.

Até por conta disso, a Caixa caminha para atingir 10% de participação de mercado até o fim do ano, que somado aos mais de 20% do Banco do Brasil deve garantir quase um terço do mercado apenas para as duas instituições. A expectativa da Caixa é crescer acima dos 40% projetados anteriormente. (Colaborou Adriana Cotias)