Título: Céu de brigadeiro para o minério, mas incerto para o aço
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2010, Investimentos, p. D1

Depois de reajustar o minério de ferro em mais de 100% no segundo trimestre do ano, quando o preço da tonelada vendida a seus clientes deve ter se aproximado dos US$ 103 a US$ 110, a Vale ainda tem muito a ganhar.

Na expectativa dos analistas, o terceiro trimestre que está em curso deverá ser o melhor do ano para a companhia. Após um novo reajuste de 35%, o minério da Vale neste período vem sendo negociado em torno de US$ 145 a tonelada. E as vendas nunca estiveram tão fortes. A companhia está operando a sua capacidade plena de 300 milhões de toneladas.

Para o quarto trimestre, ainda há duvidas sobre um novo reajuste, já que o preço é calculado pela Vale com base na média trimestral praticada no mercado à vista (spot) chinês no trimestre anterior. Apesar da queda do preço do minério no spot na China entre junho e julho, que chegou a surpreendentes US$ 116 a tonelada num ambiente de demanda aquecida, o spot voltou a se recuperar e ontem chegou a faixa de US$ 134 a tonelada no mercado da China. Se o spot continuar a subir poderá evitar que o preço do minério negociado com os clientes da Vale fique estável ou caia de outubro a dezembro.

Analistas, porém, avaliam que ainda há bastante incerteza na aceitação desta formula de reajuste trimestral do minério pelas siderúrgicas globais. A desconfiança advém do fato de que o mercado do aço não está "bombando" como o do minério, que tem na China seu maior cliente.

Enquanto o curto prazo sorri para as mineradoras, as siderúrgicas estão ainda vivendo sob o signo da incerteza. A recente queda do preço do aço na China acentuou esse sentimento, apesar de ter havido uma alta de 5% nesta semana. Na avaliação dos analistas consultados pelo Valor, o cenário para os próximos trimestres não é de todo positivo para as siderúrgicas.

O preço do aço no mercado internacional está oscilando bastante, mercados como os da Europa e dos Estados Unidos estão ainda em fase de recuperação, e o mercado interno, cujas vendas para aços longos estão bem favorecidas, está às voltas com um superestoque de aços planos da ordem de 1,3 milhão de toneladas em poder das distribuidoras. Isso sinaliza uma guerra de preço para desova do produto.

O preço do aço plano no mercado doméstico, na ótica dos analistas, deverá ficar estagnado até o final do ano. Será difícil tentar repassar aumentos de preços. O governo, aliás, já havia alertado as usinas, ameaçando com alíquota zero de importação do produto quando elas manifestaram intenção de adotar reajustes trimestrais para acompanhar o preço do minério. As projeções para o próximo balanço das siderúrgicas brasileiras indicam margens de ganhos menores. A não ser que tenham minério próprio, como a CSN e agora, a Usiminas. (VSD)