Título: Hegemonia do PT na campanha de Dilma incomoda aliados
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2010, Política, p. A9

A hegemonia do PT no comitê de Dilma Rousseff já incomoda os outros partidos da coligação "Para o Brasil Seguir Mudando". As siglas menores, como o PR, e tradicionais aliadas, como o PSB e o PCdoB, reclamam de falta de acesso à candidata e às decisões da campanha. O PMDB trata suas demandas diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também tem queixas sobre o que chama de exclusivismo petista.

Segundo o presidente de um dos partidos da aliança governista, o PT blindou Dilma aos aliados. Na prática, as queixas se referem à definição da agenda da candidata, sua participação e a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos palanques estaduais e à elaboração do programa de governo. No que se refere ao programa, o exemplo citado é a "barbaridade" de a campanha registrar - e depois recuar - no TSE o resultado do Congresso do PT.

Os partidos aliados tradicionais do PT, nas eleições presidenciais passadas, avaliam que Dilma é até mais "plural e acessível" que Lula às outras siglas de esquerda. A candidata teria uma visão diferente do exclusivismo petista, que divide o mundo em antes e depois do PT, segundo disse ao Valor o dirigente de uma dessas siglas. Um exemplo seria a sucessão de reuniões, café da manhã e almoço de trabalho, que Dilma teve com líderes do PCdoB ao longo do ano passado.

A diferença seria que, ao contrário de Lula, fundador do PT, Dilma não é petista de origem: ela integrou o PDT brizolista, após a redemocratização, e antes disso militou em organizações como a Var Palmares e a Polop, a "Política Operaria", grupo integrado por universitários, jovens da classe média e intelectuais que depois se fragmentou em outras organizações.

Nas conversas com Dilma, a candidata costuma deixar claro que é candidata de uma frente e não do PT, o que agrada os dirigentes dos outros partidos da coligação. Mas na coordenação efetiva do comitê não há não-petistas. Há no Conselho Político, integrado pelos presidentes dos partidos da coligação. Formal ou informalmente, como é o caso do PP e do PTB, que não estão oficialmente na aliança registrada do TSE, mas participam das reuniões.

A criação de colegiados foi a maneira que as outras siglas viram para ter participação e influência efetivas na campanha. Abaixo do Conselho Político existe a "Coordenação Operativa". Para se ter uma ideia da importância que o PT dá a essa coordenação, em sua primeira reunião o presidente do partido, José Eduardo Dutra, voltou-se para os demais e perguntou: "O que essa coordenação deve fazer"?

Por sugestão do PCdoB, na última reunião da "coordenação" decidiu-se criar os comitês suprapartidários de Dilma nos Estados, o que até agora não havia sido pensado, fato que não-petistas da campanha atribuem ao fato de o clima no comitê de Dilma seja de amplo favoritismo. Contam dirigentes de partidos da coligação que o PT já fala da eleição como o cumprimento de uma mera formalidade antes da posse de Dilma, em janeiro de 2012.

É nos colegiados da campanha que os outros partidos tentam ser ouvidos e resolver os problemas. De acordo com relato do próprio Dutra, em reunião da "coordenação", em 15 Estados a candidata Dilma terá dois ou mais palanques de apoio com os partidos aliados. Isso cria um problema: em qual palanque a candidata - e sobretudo Lula - vai subir em sua visita ao Estado. Sob a pressão dos partidos coligados, já está decidido que Dilma vai a todos os palanques que tiver no Estado. Foi cogitado criar um palanque de Dilma ao qual iriam os outros "apoiadores". A conclusão óbvia é que não daria certo juntar adversários locais.

Na Bahia, por exemplo, seria constrangedor eleitoralmente tanto para o governador Jaques Wagner (PT) como para o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB) ficar sob o mesmo teto, mesmo que ele seja o de Dilma Rousseff, a candidata do partido de ambos. O problema é o mesmo no Amazonas, onde o PMDB resolveu apresentar candidato próprio contra o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR), o candidato com o qual se comprometeu o presidente Lula. No Amazonas o PT também lançou uma candidata sem chances ao Senado, enquanto o PCdoB concorre com um nome viável: a deputada Vanessa Grazziotin.

Lula, por outro lado, é uma "entidade independente", de acordo com um integrante do Conselho Político. O presidente já avisou que vai aonde quiser, o que significa dizer o palanque dos candidatos com os quais está compromissado há tempos. Neste caso estão Jaques Wagner, na Bahia, e o ministro Alfredo Nascimento, no Amazonas, Estado onde o PMDB impôs a candidatura própria e, segundo informação corrente na campanha de Dilma, teria uma espécie de trato informal para reeleger o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, que Lula gostaria de derrotar. O ex-governador pemedebista Eduardo Braga deve ficar com a primeira vaga ao Senado, conforme apontam todas as pesquisas.