Título: Fim da telenovela
Autor: Valenti , Graziella
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2010, Investimentos, p. D1

Dois negócios bilionários num só dia e o nó das telecomunicações no Brasil começou a ser desatado exatamente no aniversário de 12 anos da privatização do setor. Mas esse passo aparentemente improvável teve seu preço. Para receber o cheque de 7,5 bilhões da Telefónica pela venda de sua participação na Vivo, a Portugal Telecom deixou R$ 3,2 bilhões para os controladores da Oi, Andrade Gutierrez (AG) e La Fonte (LF Tel), e mais R$ 1,1 bilhão para os fundos de pensão das estatais Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Esses desembolsos garantiram que a operação saísse num prazo de tempo muito curto. Pedro Jereissati, da La Fonte, admite que as conversas se "intensificaram" na semana passada. "Estamos quatro dias praticamente sem dormir. Antes não tinha nada." De acordo com os sócios da Oi, o primeiro contato para uma negociação efetiva ocorreu no dia 19.

A Portugal Telecom anunciou ontem uma troca de posição de investimentos no Brasil. Sai da Vivo, que passa a ser uma empresa apenas do grupo Telefónica, e entra na Oi, onde terá cerca de 23% tanto no bloco de controle como de participação econômica no grupo. Recebeu 7,5 bilhões pela saída da Vivo e colocará até R$ 8,4 bilhões - ou cerca de 3,7 bilhões - na Oi, sendo que cerca de 65% desse total será dinheiro novo para fortalecer o negócio. Na saída, vendeu a Vivo por um múltiplo equivalente a quase 11 vezes o resultado operacional, enquanto a compra na Oi deve ser feita perto de 6,5 vezes.

Dentro do negócio, a Oi deverá ter 10% da Portugal Telecom, no lugar hoje ocupado pela Telefónica.

A entrada na Oi é de grande complexidade societária, pois os portugueses devem permear toda a cadeia societária, desde AG e LF Tel até a companhia operacional, num total de quatro níveis. Com isso, garantiram um preço de prêmio de controle aos atuais sócios majoritários e uma relação econômica mais vantajosa para o investimento total.

A transação envolve um aumento de capital de R$ 4,2 bilhões na holding do grupo que não está na bolsa, a Telemar Participações, onde estão os controladores e o acordo de acionistas, e mais outro de R$ 12 bilhões em cada uma das empresas com ações na BM&FBovespa: Tele Norte Leste Participações (TNLP) e Telemar Norte Leste (TMAR).

Há apenas uma parte certa na transação, a que garante a entrada dos portugueses na holding Telemar Participações, onde está o acordo de acionistas, por um total de R$ 4,7 bilhões.

Cada um dos controladores, AG e LF Tel, receberá R$ 1,6 bilhão para que a Portugal Telecom tenha 35% em cada uma delas. Entretanto, desse valor, só R$ 820 milhões serão repassados à Telemar Participações por eles no aumento de capital - o restante será embolsado. Além disso, os portugueses pagarão R$ 1,1 bilhão para comprar uma participação direta de 10% nessa holding, nas mãos dos fundos de pensão. Por fim, desembolsarão R$ 424 milhões no momento do aumento de capital. Ao fim, terão direta e indiretamente 23,5% da Telemar Participações.

Num segundo momento, a Portugal Telecom entrará com até R$ 3,7 bilhões nos aumentos de capital das empresas listadas TNLP e TMAR. Essa etapa torna imprevisível o desenho final do negócio. Depende fundamentalmente se os minoritários das companhias acompanharão a operação ou não. O preço dos papéis já foi estabelecido. Não há definição sequer se o ingresso dos portugueses nessas operações será feito com a compra de ações ordinárias ou preferenciais.

Os aumentos de capital são a forma pela qual a Portugal Telecom entrará diretamente na operação do grupo Oi. Ao fim da transação, deverão ter direta e indiretamente 22,4% da TMAR, braço operacional do grupo.

Embora tenha desagradado o mercado no curto prazo, uma capitalização de R$ 12 bilhões permitirá que a Oi rapidamente retome a capacidade de crescer mais agressivamente. Desse total, cerca de R$ 10 bilhões devem engordar o caixa da empresa, descontados os R$ 2 bilhões que serão gastos na compra de 10% das ações da Portugal Telecom. A Oi tem hoje uma dívida perto de R$ 30 bilhões. O endividamento líquido equivale a 2,1 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida). De acordo com Jereissati, essa relação pode ir a 1 vez após o aumento de capital.

O gasto que a Portugal Telecom teve na compra dos 23,5% da holding, que tem apenas 17% de interesse econômico na TNLP, embute os direitos políticos adquiridos, como vetar a orientação dada por AG e LF Tel ao conselho de administração.

Zeinal Bava, presidente-executivo da Portugal Telecom, está satisfeito com o negócio, pois acredita que ele atendeu ao interesse de todos os envolvidos, algo que parecia "impossível". O grupo português consolidará 23,5% do resultado da Oi em seu balanço. A troca é praticamente equivalente à consolidação de 50% da Vivo. A diferença é que a dívida líquida do grupo deve cair de 5,5 bilhões para 2,2 bilhões. A receita líquida anual da Portugal Telecom deve passar de 6,8 bilhões para 6,2 bilhões. (Colaborou Fernando Torres)