Título: Investidor ignora alta da bolsa e foge das ações
Autor: Perez, Antonio
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2010, Investimentos, p. D2

Apesar da arrancada de 6,39% do Ibovespa na semana passada, os investidores não se animaram a aplicar em fundos de ações. No período, a categoria amargou saída líquida - saques menos aportes, sem contar a rentabilidade - de R$ 231,7 milhões, segundo informações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

As retiradas nas carteiras de ações foram puxadas pelos fundos IBrX Ativo (R$ 44,07 milhões) e Ibovespa Ativo (R$ 41,32 milhões), em que os gestores buscam superar o desempenho do índice referencial. Mesmo com alta superior a 12% dos papéis da Vale na semana passada, os fundos da mineradora com recursos próprios perderam R$ 20,21 milhões.

Há um descompasso tradicional entre o movimento de alta da bolsa e o apetite dos investidores por fundos de ações, o que explica o desempenho ruim da categoria na semana passada, aponta Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos, empresa de aconselhamento financeiro. "Apesar de o índice ter subido rapidamente, o investidor ainda não vislumbra uma tendência clara de alta", diz Lembi.

Com as incertezas que ainda rondam a recuperação da economia americana e o temor de novos episódios da crise de dívida soberana na Europa, o investidor tem adotado uma postura mais cautelosa, diz Lembi. Para que os fundos de ações voltem a atrair recursos, avalia o sócio da M2, o Ibovespa precisa se segurar na casa dos 66 mil pontos pelas próximas semanas. "Mas isso pode não acontecer, pois o cenário ainda é de muita volatilidade", alerta Lembi.

Ele lembra que a alta recente do Ibovespa foi desencadeada pela recuperação das commodities, após o governo chinês ter sinalizado que não pretende adotar novas medidas para esfriar a economia. Mas basta um indicador negativo na China, ressalta Lembi, para que as commodities percam fôlego, interrompendo a recuperação da bolsa.

A saída de dinheiro dos fundos de ações na semana passada não foi compensada por entrada de recursos em outras modalidades. Depois de captar R$ 5,249 bilhões na semana encerrada dia 16, as carteiras de renda fixa sofreram saída líquida de R$ 2,068 bilhões no período. Também houve perdas nos fundos referenciados DI (R$ 485,8 milhões) e na categoria multimercados (R$ 456,3 milhões).

Com isso, o setor de fundos perdeu no total R$ 2,059 bilhões na semana passada. Parte da saída das carteiras de renda fixa foi compensada pela entrada líquida de R$ 800 nos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) e de R$ 200 milhões nas carteiras de previdência.

Mesmo com a saída líquida de recursos, o patrimônio total doméstico do setor de fundos subiu de R$ 1,471 trilhão para R$ 1,481 trilhão, graças à rentabilidade no período. No mês, o setor acumula captação líquida de R$ 10 bilhões, puxada pelas entradas em carteiras de renda fixa (R$ 3,49 bilhões) e curto prazo (R$ 3,566 bilhões). Na ponta oposta, os multimercados, que têm liberdade para aplicar em diversos ativos, perdem R$ 447,2 milhões em julho.