Título: Por caixa, BP deve vender ativos na América Latina
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2010, Internacional, p. A10
A urgência da BP em vender ativos para pagar as indenizações pelo acidente no Golfo do México já começa a ter repercussões na América Latina. Depois de vender ativos nos EUA, Canadá e Egito para a americana Apache por US$ 7 bilhões, a petroleira britânica parece estar agora se desfazendo de operações na Venezuela, Colômbia, Argentina e, indiretamente, na Bolívia. A objetivo da BP é arrecadar US$ 30 bilhões.
Uma fonte a par dos negócios da Petrobras na região avalia que a estatal brasileira não teria interesse nesses ativos. Lembrou que a direção da empresa brasileira tem repetido que vai concentrar esforços, inclusive financeiros, na exploração e produção dos reservatórios encontrados no pré-sal da bacia de Santos, podendo até vender ativos não estratégicos no exterior.
A BP adquiriu ativos da Devon no Brasil, incluindo o campo de Polvo, mas o negócio ainda não foi aprovado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e, por isso, a BP ainda não assumiu o controle. A Devon já teria recebido os US$ 7 bilhões relativos à venda - que incluiu bens em outros países - mas se prevê que o negócio brasileiro poderá ser desfeito no caso de um veto da agência reguladora. A avaliação é que isso seria péssimo tanto para a BP como a Devon, já que o valor se refere a um pacote de ativos reunidos.
Um provável comprador dos negócios da BP na Venezuela é a TNK-BP, associação entre investidores russos e a petroleira britânica. A TNK-BP informou que apoia a intenção da sua sócia de realinhar ativos estratégicos na Venezuela e que tem interesse em adquiri-los.
O vice-presidente da estatal venezuelana PDVSA, Eulogio del Pino, disse que a BP ofereceu sua participação de 16,66% na PetroMonagas, antiga Cerro Negro Operadora, planta de processamento de petróleo extra-pesado na Venezuela. A empresa, estatizada por Hugo Chávez, tem como sócios a PDVSA e a ExxonMobil, com 41,67%. Os 16,6% da companhia britânica foram avaliados em US$ 1 bilhão.
A BP também estaria oferecendo sua participação de 60% na argentina Pan American Energy (PAE), empresa que também tem como sócia a argentina Bridas, com 40%. A própria Bridas, controlada pela família Bulgheroni, tem seu controle compartilhado (50%) pela família e pela estatal China National Offshore Oil Corporation (CNOOC). Fontes avaliam que os chineses poderiam comprar a fatia da BP na PAE, avaliada entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões por um especialista no assunto consultado pelo Valor. Em recente relatório sobre a redução da presença da BP na região, a consultoria Oxford Analytica avaliava como sendo "um passo lógico" o aprofundamento dos investimentos da CNOOC na Pan American Energy.
A PAE tem ativos no Uruguai, Chile e Bolívia, onde era acionista majoritária da boliviana Chaco, empresa estatizada pelo presidente Evo Morales em 2008. Em maio a PAE entrou com um processo de arbitragem contra a Bolívia no Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (ICSID, na sigla em inglês), onde tenta uma compensação pela expropriação de seus investimentos na Chaco.
Para vender sua participação em campos de petróleo na Colômbia, a BP teria contratado o Barclays Capital. O negócio é avaliado entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões. (Com agências internacionais)