Título: Ata alivia cenário da inflação e reforça aposta em fim do aperto
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2010, Finanças, p. C2

O Banco Central acredita que a economia brasileira caminha para um maior "equilíbrio de longo prazo", sem o mesmo ímpeto visto no primeiro trimestre à medida que os estímulos fiscais e monetários são retirados no pós-crise. Ao mesmo tempo, a inflação recuou de forma "acentuada" nas últimas semanas e os riscos para um descontrole são "decrescentes", com influência deflacionária do ambiente externo.

Esse é o cenário descrito na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, que levou a autoridade monetária a reduzir o ritmo de alta da Selic, de 0,75 ponto percentual dos encontros de abril e junho, para 0,5 ponto agora em julho. Além disso, o documento deu mais força à aposta de que o ciclo monetário já chegou ao final.

Para o comitê, o dinamismo da atividade doméstica continua sendo favorecido pelos efeitos remanescentes dos estímulos fiscais e das políticas dos bancos públicos. Já o ambiente externo dá sinais de estagnação e de contribuição no sentido de desacelerar a inflação interna brasileira. Há, portanto, "sinais de que a economia tem se deslocado para uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo, onde os efeitos desses desenvolvimentos sobre o balanço de riscos para inflação tendem a arrefecer", completa o BC.

"São decrescentes os riscos para a consolidação de um cenário inflacionário benigno e se circunscrevem ao âmbito interno, em contexto de virtual esgotamento da margem de ociosidade na utilização dos fatores de produção". O texto oficial vai além e afirma que "é plausível afirmar que os fatores de sustentação desses riscos mostram desaceleração na margem."

O documento deixa em aberto a possibilidade de novas elevações, mas dá indícios de que o aperto pode estar no fim. "Houve consenso entre os membros do Comitê sobre a necessidade de eventualmente se adequar o ritmo do ajuste da taxa básica de juros à evolução do cenário inflacionário prospectivo, bem como ao correspondente balanço de riscos."

A ata, na visão de analistas, diverge bastante dos últimos documentos oficiais da autoridade monetária. Como destaca Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, tanto a ata da reunião de junho, quanto o Relatório de Inflação do segundo trimestre vieram com um discurso bastante forte, ressaltando a ambiguidade do cenário externo para a inflação e mostrando muita preocupação com o descompasso entre o ritmo de crescimento entre a oferta e a demanda. Já no texto divulgado ontem, essas preocupações arrefeceram ou mesmo foram suprimidas do discurso monetário.

Para o Santander, as dúvidas em relação ao tempo esperado para a convergência rumo às metas foram esclarecidas na ata. No chamado cenário de referência, que assume como parâmetros Selic e câmbio estáveis, a projeção para o índice oficial de inflação, o IPCA, em 2011 se reduziu e agora se situa acima da meta, e não mais "sensivelmente acima", como dizia o texto de junho. Já no cenário de mercado, que usa dos dados do Boletim Focus (Selic de 11,75% ao ano em dezembro de 2010), a projeção também caiu e agora se situa ao redor da meta.

A ata também introduziu o horizonte do primeiro semestre de 2012 (antes do que de costume, para uma ata, mas já contemplado no Relatório de Inflação) com inflação abaixo do centro da meta no cenário de mercado. No Relatório de Inflação, o cenário de 2012 já estava contemplado, com inflação de 4,3% no cenário de mercado (que incluiu novo ciclo de alta em 2011) e de 4,7% no cenário de referência (Selic estável).

De acordo com a equipe do Santander, a introdução, "de forma inédita para esta época do ano", das projeções para 2012, "significa que a autoridade monetária aumentou o prazo esperado para que a inflação retorne" ao centro. "Por isso mudamos nossa projeção para a Selic no ano, passando a esperar estabilidade da taxa básica até dezembro (10,75% ao ano)", diz relatório do banco.