Título: Bolsa tem melhor mês desde maio de 2009
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2010, Investimentos, p. D3

Um certo otimismo tomou conta do mercado em julho e tem tudo para continuar - ainda que de maneira bastante moderada - em agosto. Não que a alta de 9,88% do Índice Bovespa no mês até ontem deva se repetir. Mas os analistas enxergam maior estabilidade do indicador, sem grandes oscilações. De qualquer forma, o Ibovespa caminha para ter o melhor resultado mensal desde maio de 2009, quando subiu 12,49%.

Pode-se dizer que um dos fatores que influenciaram fortemente os mercados em julho foi a mudança na velocidade da alta de juros no Brasil. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros foi elevada em 0,5 pontos percentuais, para 10,75% ao ano, quando grande parte dos economistas esperava alta de 0,75 ponto. Na ata da reunião divulgada ontem, o Banco Central avalia que os riscos para o cenário da inflação diminuíram consideravelmente de junho para julho e fatores internos e externos contribuíram para enfraquecer as pressões sobre os preços.

Julho também foi marcado por um certo alívio dos investidores com a situação europeia, diante dos bons resultados dos testes de estresse dos bancos da região. Pesaram a favor também os balanços, que vieram melhores do que o esperado, de algumas empresas dos Estados Unidos e da Europa. Resultado: o Ibovespa, que até junho acumulava queda de 11,16%, recuperou boa parte das perdas neste mês e, agora, tem queda de apenas 2,38% até ontem.

As férias no Hemisfério Norte, que reduzem os volumes para os ativos financeiros, devem fazer com que agosto seja um mês relativamente tranquilo, sem grandes notícias, avalia Gilberto Poso, superintendente-executivo de gestão de patrimônio do HSBC. "Não acredito numa reversão da tendência de alta, mas também não numa grande aceleração", diz o executivo. "O investidor não deve esperar uma nova alta de 10% para o próximo mês."

Apesar do bom humor visto em julho, o mercado acionário deve ficar oscilando entre 67 mil e 68 mil, pois não há um gatilho para puxar a bolsa, afirma Fabio Frugis Cruz, sócio da Latin Finance Investimentos. As discussões sobre o processo de capitalização da Petrobras devem ser acompanhadas de perto pelos investidores, avalia o executivo. Isso porque, apesar de a operação estar prevista para setembro, o mercado poderá se antecipar, dependendo do cenário que começar a ser traçado. Entre as oportunidades em bolsa, o executivo cita os papéis de commodities, já que eles teriam ficado mais baratos ante principalmente as ações ligados ao consumo interno.

Os fundos compostos somente por papéis da Petrobras rendem no mês, até o dia 26, 2,90%, mas ainda perdem 22,83% no ano. Entre os dias 27 e ontem, no entanto, os papéis ordinários (ON, com direito a voto) têm queda de 2,04%. Já as carteiras formadas por ações da Vale têm rentabilidade de 10,29% no mês, mas caem 2,60% no ano até o dia 26. Entre os dias 27 e 29, os papéis subiam 0,44%.

Ainda há muitas dúvidas sobre a recuperação sustentável dos Estados Unidos, que deve ocorrer de maneira mais lenta do que o inicialmente esperado, ressalta Marcelo Figueiredo, diretor de recursos de terceiros do Banco Fator. Além disso, o desemprego e a parte imobiliária ainda preocupam, sem falar na expectativa do consumidor americano, que continua ruim, lembra ele. "Os gestores se mantêm bastante preocupados em tomar risco porque não há confiança de um cenário mais definido", diz. "É difícil acreditar numa alta como a vista neste mês em agosto."

O fato é que, com o otimismo maior dos investidores em julho, o ouro deve fechar em baixa, após quatro meses seguidos de valorização. Até ontem, o metal registrava queda de 3,10%, mas no ano ainda está na liderança, com valorização de 15,81%. O ouro sofre influência do preço da commodity no mercado internacional e da variação do dólar em relação ao real. A desvalorização de 2,38% da moeda americana no mês até ontem, portanto, contribui para o resultado. No ano, o dólar tem alta de 1,03% até ontem.

O real deve continuar valorizado, avalia Figueiredo, do Fator. Ele diz que não recomenda ao investidor montar posições cambiais, a não ser que o aplicador tenha um passivo atrelado ao dólar.

Na renda fixa, a elevação recente dos juros deixa as aplicações pós-fixadas mais atraentes para a parcela conservadora do portfólio do investidor, diz Edson Franco, superintendente-executivo de investimento do varejo do Santander. Isso vale tanto para fundos DI como para CDBs, enquanto a caderneta de poupança perde atratividade, lembra o executivo.

Não há grandes prêmios nos papéis prefixados e a relação risco/retorno dos DI está melhor no momento, afirma Poso, do HSBC. Ele diz que vem recomendando aos investidores as aplicações pós-fixadas ante as pré. Até ontem, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário que serve de referencial para as aplicações conservadoras) apresentava variação de 0,86% em julho e 5,20% no ano. A estimativa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) é de que os fundos DI encerrem o mês com ganho médio de 0,87% - superior ao 0,85% projetado para os renda fixa.