Título: Cai uso de capacidade instalada da indústria
Autor: Otoni , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2010, Brasil, p. A5
Em clara indicação do esfriamento do nível de atividade, o setor industrial registrou retração de 0,6% no faturamento em junho frente a maio. O recuo foi acompanhado da redução de 0,3% e da queda de 0,2 ponto percentual no uso da capacidade instalada, que ficou em 82,5 pontos percentuais.
Os dados foram apresentados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que classificou a desaceleração como uma acomodação. "Não há mudança de cenário. Não foi um tombo, foi uma pausa", frisou o economista Flávio Castelo Branco, gerente-executivo da unidade de política econômica da entidade.
A expectativa é de retorno à trajetória de expansão em julho ou em agosto, meses em que as indústrias se preparam para atender às encomendas de fim de ano. "O período entre julho e outubro é o de maior intensidade da produção. É por isso que as empresa continuam contratando", explicou Castelo Branco.
Além de junho, os indicadores dessazonalizados de faturamento, horas trabalhadas e de uso da capacidade instalada recuaram também em abril, o que representa dois meses de diminuição do ritmo de atividade no segundo trimestre. Com isso, os indicadores consolidados entre abril e junho mostram resultados modestos em comparação aos registrados entre janeiro e março.
Após a alta de 2,9% no primeiro trimestre, o faturamento do setor industrial encolheu 0,3% no segundo trimestre. Ainda assim, no encerramento dos primeiros seis meses a alta nas receitas foi de 12% em comparação a igual período de 2009.
As horas trabalhadas na produção tiveram ligeiro aumento, de 0,3%, entre abril e junho, em comparação com o trimestre anterior. No semestre a alta foi de 7,7%. O emprego manteve trajetória de expansão e avançou 1,4% no segundo trimestre frente ao primeiro. Com isso, o indicador fechou os primeiros seis meses de 2010 com acréscimo de 4,3%. A ocupação no setor industrial continua a favorecer a massa salarial, que no primeiro semestre acumula alta de 5,2%.
A antecipação de consumo no primeiro trimestre foi uma das razões apresentadas pela CNI para explicar o esfriamento do nível de atividade industrial em abril, maio e junho. Além do fim dos estímulos tributários na compra de bens de consumo, também contribuíram negativamente o início da política de elevação dos juros básicos, a paralisação da produção nos dias de jogo da seleção na Copa do Mundo e a diminuição da oferta de crédito.
Castelo Branco ponderou que esses fatores ajudaram a desacelerar o ritmo de expansão do setor, mas não serão capazes de reverter a tendência de crescimento prevista para a segunda metade do ano. Segundo ele, o mercado de trabalho mantém dinamismo nas contratações e nem o ajuste da taxa Selic será um obstáculo.
"O choque de juros não foi tão forte a ponto de afetar o crédito, e a tendência é que gerará um impacto moderado na redução do nível de atividade e, não, uma interrupção do atual ciclo de crescimento", afirmou o economista. Na avaliação de Castelo Branco, o uso da capacidade instalada tende a se estabilizar em torno de 83 pontos percentuais nos próximos meses.