Título: Com acordos, El Salvador quer atrair investimentos brasileiros
Autor: Watanabe , Marta
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2010, Brasil, p. A4

Brasil e El Salvador assinaram ontem quatro acordos de cooperação técnica para projetos que alcançam desde o incentivo ao trabalho de artesãs salvadorenhas até a criação de um centro de formação profissional conjunto. Os acordos, juntamente com uma carta de intenções para a proteção de crianças e adolescentes de El Salvador, foram assinados em auditório lotado da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), na presença dos presidentes dos dois países, ambos acompanhados de grande comitiva de representantes de seus governos. O evento iniciou o encontro para rodada de negócios entre empresários brasileiros e salvadorenhos.

O ato buscou sinalizar aos empresários dos dois países a confiança de Lula e do presidente de El Salvador, Mauricio Funes, nas oportunidades de negócios que podem surgir com o fortalecimento da relação bilateral entre brasileiros e salvadorenhos. Os números atuais mostram que há longo trabalho pela frente. Em termos comerciais, a balança é incomparavelmente favorável ao Brasil. No ano passado, o Brasil importou US$ 5,3 milhões em mercadorias de origem salvadorenha. No mesmo período os brasileiros embarcaram para El Salvador US$ 195,6 milhões.

"Quem é grande tem mais responsabilidade. O importante não é ter apenas superávit comercial. É preciso ter equilíbrio", disse ontem o presidente Lula. Foto Destaque

Ricardo Quiñonez, diretor da Exporta, agência oficial de promoção de exportação de El Salvador, diz que seu país tem infraestrutura e incentivos que podem fazer com que o território salvadorenho seja aproveitado pelos brasileiros como plataforma de exportação. Segundo o diretor, El Salvador tem sete tratados de livre comércio com países como México, Estados Unidos e Canadá e um em negociação com a União Europeia. "Esses tratados permitem que empresas instaladas em El Salvador façam importações e exportações livres de impostos."

Ele também chama a atenção para a política fiscal salvadorenha chamada de Estratégia Integral de Fomento às Exportações. O programa conta com 21 medidas para apoio ao desenvolvimento do comércio exterior de El Salvador. Para viabilizar a implantação da política fiscal, o governo salvadorenho deve pleitear ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) um financiamento equivalente a US$ 40 milhões. Uma das medidas do programa, que também pode beneficiar empresas brasileiras instaladas naquele país, diz o diretor, é o subsídio dado às indústrias pela geração de empregos.

Entre as áreas prontas para receber investimentos, destaca Quiñonez, estão a de produção de equipamentos médicos, a têxtil, a aeronáutica e a de logística e infraestrutura. Em termos de trocas comerciais, o diretor lembra que atualmente a pauta de importação brasileira de produtos salvadorenhos é de pescados, principalmente atum. A ideia é diversificar com produtos plásticos e alguns itens agroindustriais.

Juan Eduardo Interiano López, diretor executivo do Cassa, grupo integrado por usinas de açúcar e álcool, foi um dos integrantes da comitiva salvadorenha que desembarcou ontem em São Paulo. Segundo ele, o grupo já possui experiência de investimento em parceria com brasileiros para produção de etanol e exportação ao mercado americano. Trata-se de uma parceria que tem dado certo e agora o grupo vem de novo ao Brasil buscar novas oportunidades de negócios.

Entre as áreas de maior interesse da empresa, diz López, estão geração de energia, indústria alimentícia e bagaço. "A usina de açúcar poderia fornecer insumos para indústrias de doces e chocolates, por exemplo." A localização geográfica de El Salvador, segundo o executivo, é uma de suas grandes vantagens. A partir de El Salvador uma empresa pode exportar para a os demais países da América Latina e ter vantagens competitivas com os acordos comerciais nos embarques para a América do Norte.

López lembra que atualmente a produção de etanol serve apenas à exportação, já que os veículos salvadorenhos usam gasolina e não há uso dos carros flex.

O etanol foi um dos produtos destacados pelo presidente Lula num discurso que compartilhou o destaque às vantagens de se investir em El Salvador. "O Brasil pode contribuir no setor têxtil e de etanol. O Brasil não ficará mais rico se seus vizinhos ficarem mais pobres. " O etanol também não foi esquecido no discurso do presidente Mauricio Funes. Ele mostrou-se simpático à ideia do biocombustível. "O etanol representa uma mudança de costumes, mas pode reduzir nossa fatura para compra de petróleo e criar novas relações entre Brasil e El Salvador." Ontem, após a assinatura dos acordos de cooperação, Funes pareceu otimista. "Este encontro marca um antes e um depois no intercâmbio entre os dois países, tanto para os governos quanto para os empresários."