Título: Americanos denunciam retrocesso ainda maior em acordo climático
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2010, Internacional, p. A11

Os EUA estão pessimistas em relação às perspectivas de um acordo internacional sobre mudanças climáticas. O negociador americano afirmou que alguns países estão voltando atrás no que havia sido definido no ano passado, na cúpula climática de Copenhague.

Segundo Jonathan Pershing, alguma nações estão exigindo "somas absurdas" de dinheiro, muito além dos US$ 100 bilhões acertados na cúpula para ajudá-los a se adaptar às mudanças climáticas. Outros países, segundo o negociador, estão exigindo que as reduções de emissões de dióxido de carbono sejam cobradas apenas das economias industrializadas.

Pershing, que comanda a delegação do Departamento de Estado nas discussões climáticas, avalia que essas novas pressões minam as chances de sucesso das discussões em torno de medidas para conter as emissões de gases que provocam o efeito estufa. Minam também, diz ele, as discussões sobre a transferência de recursos para países pobres. Esses temas serão chave na cúpula climática que ocorre em Cancún, no México, em dezembro.

Divergências entre países ricos e pobres foram decisivas para impedir a adoção do tratado em Copenhague. Agora uma das ideias é tentar aprovar três tratados, cada um para um grupo de países.

"Se continuarmos no caminho que estamos agora, não há nenhuma esperança de um acordo" em Cancún, disse Pershing. "Parece que todas as partes terão dificuldades pela frente para convergirem, além disso o texto está maior do que deve ser."

Delegados de cerca de 190 países incluíram ao longo da semana passada em Bonn, na Alemanha, novas demandas nas versões preliminares dos textos que serão usados na reunião do México.

Os negociadores reabriram debates que tinham ficado acertados em Copenhague. Dois dos pontos que estão sendo rediscutidos são as metas de redução de emissão dos países ricos e dos países em desenvolvimento e a forma de verificação das emissões de gases-estufa.

"Se fecharmos o texto sem nenhuma ideia nova para seguirmos adiante com as discussões, estaremos deixando alguns pontos para outro século", disse Dessima Williams, de Granada, representante da Aliança dos Países-Ilha. "As negociações não estão levando em conta os conclusões científicas, estão muito lentas e não estão apresentando respostas suficientes para a urgência que o tema exige."

Luis Alfonso de Alba, representante especial do México para a mudança climática, disse à agência de notícias Reuters na semana passada que podem surgir até três tratados estabelecendo obrigações dos países quanto à redução das emissões de gases do efeito estufa e apoio às nações mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento.

"Não estamos falando apenas de um só instrumento juridicamente vinculante, mas de um conjunto deles", afirmou o delegado em Bonn. "Um instrumento vai abranger [as partes do] Protocolo de Kyoto, mas também é possível ter alguma coisa para os EUA, e um terceiro para os países em desenvolvimento." O Protocolo de Kyoto, que expira em 2012, só prevê obrigações para os países desenvolvidos. Os EUA, embora sejam o segundo maior emissor global de gases do efeito estufa, não participam do tratado.