Título: Políticas públicas precisam ser interligadas, avalia Ipea
Autor: Máximo , Luciano
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2010, Brasil, p. A4

Uma das soluções para aumentar a presença de mão de obra com maior escolaridade e melhor qualificação no mercado de trabalho brasileiro é articular as atuais políticas de colocação, qualificação e proteção do trabalhador, opina o presidente do Instituto de Economia Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Economista especializado em relações do trabalho, ele afirma que o Brasil carece de um sistema público de emprego, capaz de oferecer, de forma integrada, benefícios e renda a desempregados, intermediação de vagas e incentivos à formação e qualificação de trabalhadores.

"Já temos isso, mas não há conversa entre os mecanismos", diz Pochmann, referindo-se ao Sistema Nacional de Emprego (Sine), coordenado pelo Ministério do Trabalho e que abrange o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) - que destina verbas para qualificação profissional -, o seguro-desemprego e uma rede de atendimento de recolocação profissional. "Mas se estou desempregado, e vou à Caixa Econômica Federal ver se tenho direito ao seguro-desemprego, não encontro informação sobre vagas ou sobre possibilidades de qualificação e formação. Se tivéssemos um mecanismo integrado, ali mesmo na Caixa eu poderia ser encaminhado para um curso ou uma vaga. Poderia conseguir outro emprego e poupar recursos públicos", exemplifica.

Luiz Antônio Caruso, gerente-executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), destaca o baixo nível de aproveitamento da rede de intermediação de mão de obra do Sine. "Muitas vagas abertas não são preenchidas, porque exigem qualificação acima daquela que o trabalhador possui. Há um desequilíbrio que poderia ser preenchido por cursos de formação e melhoria da informação", avalia.

Dados de 2008 (os mais recentes) mostram que o programa de intermediação de mão de obra do governo federal encaminhou mais de 5,5 milhões de inscritos para 2,5 milhões de vagas, mas pouco mais de 1 milhão delas foram preenchidas . Segundo Pochmann, a reorganização do Sine deve estar aliada à construção de um plano nacional de formação e qualificação e à adoção de indicadores da demanda de emprego. "Para que a força de trabalho seja formada de acordo com o emprego de amanhã, e não de ontem", pondera.

As micro e pequenas empresas, continua Pochmann, devem estar no foco das ações propostas. "Os negócios grandes e médios têm departamentos que sabem selecionar trabalhadores. As pequenas empresas, de maneira geral, não têm condições de selecionar bem e isso resulta em demissão precoce, porque deriva de uma contratação equivocada."

Com o projeto Capital Humano, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) procura mapear a demanda por mão de obra e qualificação profissional de mais de 20 setores da indústria paulista, em parceria com o Senai e outras instituições de ensino técnico, como o Centro Paula Souza, de São Paulo.

Segundo Cristiane Medina, economista do departamento de ação regional da federação, a iniciativa pode ser ampliada. "As estruturas existentes hoje são descoladas umas das outras. Estamos atuando na indústria, mas o projeto tem um escopo que pode envolver o FAT, a Caixa, sindicatos do lado patronal e, por que não, de trabalhadores", destaca Cristiane. (LM)