Título: Venda aos EUA e Argentina sustenta aumento da exportação
Autor: Watanabem, Marta
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2010, Brasil, p. A4
de Brasília
O aumento das exportações brasileiras, que ganhava fôlego nos últimos meses, reduziu o ritmo em junho, mas se sustentou principalmente com as vendas para os Estados Unidos e Argentina - os únicos entre os grandes compradores do Brasil para os quais o país teve crescimento de vendas no mês passado, em relação a maio. As vendas à China, maior comprador brasileiro, caíram 18,6% em relação a maio e quase 3% em relação a junho de 2009. As vendas aos EUA sobem vigorosamente: cresceram 30,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.
"A queda das exportações à China é localizada e a explicação está na redução dos embarques de soja, mas também celulose, siderúrgicos e aviões", explicou o secretário-adjunto de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fábio Faria. "Mas estamos expandindo as vendas à Ásia como um todo: Japão, Índia, Coreia." No primeiro semestre, o aumento nas vendas à China foi de quase 18%, inferior até ao das vendas à União Europeia, de 19,4%. "Temos grande preocupação com o que está acontecendo com a Europa, mas os embarques (para o continente) continuam em certa normalidade", disse Faria.
O resultado do comércio exterior brasileiro no primeiro semestre, de US$ 7,9 bilhões, é o mais baixo desde 2003, e o principal motivo é o forte crescimento das importações, principalmente as de bens de consumo, que já rivaliza, em valor, com o aumento das importações de máquinas e equipamentos para a indústria, os chamados bens de capital. Enquanto a importação de bens de capital aumentou mais de US$ 1,1 bilhão, 51,4% em junho (comparada a junho de 2009), as compras de bens de consumo produzidos no exterior cresceram quase 58%, pouco menos de US$ 1 bilhão.
As importações de bens de consumo duráveis - como automóveis, eletrodomésticos, móveis e equipamentos para as residências - seguem aumentando em cerca de 70% mês a mês. No caso das máquinas e aparelhos de uso doméstico o crescimento passou de 112%. O item de maior peso absoluto no total das compras de bens duráveis é o de automóveis, que aumentou 62,3% em junho, mais de US$ 280 milhões que em junho de 2009.
Embora o saldo comercial no primeiro semestre seja quase 44% inferior ao do primeiro semestre do ano passado, o Ministério do Desenvolvimento preferiu ressaltar a vitalidade do comércio total, que, somadas importações e exportações, cresceu 35% nesse período. O setor privado preocupa-se com o desequilíbrio entre os ritmos da importação (44%) e da exportação (27%), que pode criar problemas para as contas externas mais à frente.
As exportações foram beneficiadas pela recuperação econômica em dois dos principais clientes do Brasil, os EUA e a Argentina, coincidentemente os maiores compradores de bens manufaturados brasileiros. Diferentemente das exportações de commodities, como minério de ferro, carne e açúcar em bruto, que cresceram principalmente devido ao aumento dos preços internacionais (de 101% no caso do ferro, 42% no do açúcar, e 24% na carne, em junho), as vendas de manufaturados elevaram-se principalmente graças a maiores quantidades exportadas.
O crescimento de quase 27% na venda de automóveis se deveu principalmente ao aumento de 20,8% no volume de carros exportados, a preços médios apenas 5% maiores que em junho de 2009. No caso dos laminados planos, o aumento de 75,9% se deveu principalmente ao aumento de 75% na quantidade vendida ao exterior. As vendas à Argentina foram impulsionadas principalmente pelos automóveis e autopeças, máquinas e equipamentos, minério de ferro, plástico e produtos plásticos e produtos siderúrgicos. Para os EUA, pesaram as vendas de petróleo, siderúrgicos, máquinas e equipamentos e celulose.
Com uma variação de apenas 18% na média diária durante o primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2009, as exportações de produtos manufaturados perderam participação relativa na pauta de exportações brasileiras, de 43,3% no primeiro semestre de 2009 para 40,5% neste ano. Sua fatia nas vendas externas foi tomada pelos produtos básicos, como minério, soja e petróleo, que já ocupavam 42% das exportações em 2009 e chegaram a 43,4% neste ano.
O Ministério do Desenvolvimento mantém a nova expectativa para as exportações, de US$ 180 bilhões neste ano, porque, como argumentou Fábio Farias, apontando para os gráficos sobre o desempenho do comércio exterior, "a curva das exportações continua em ascendência". No semestre, as exportações à Argentina foram as que mais cresceram entre os grandes parceiros comerciais do Brasil, quase 57%. Entre as regiões, a única a reduzir as compras do Brasil foi a África, para onde as exportações caíram 9,5%. As vendas ao Oriente Médio cresceram 26%, e, para a Ásia, 23,4% (quase 18% de aumento para a China).