Título: Brasil compra mais de novos fornecedores
Autor: Watanabem, Marta
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2010, Brasil, p. A4
de São Paulo
Com o mercado doméstico aquecido e as importações destinadas à complementação da oferta interna de matérias-primas e insumos intermediários, o Brasil tem aumentado o ritmo de compras de novos fornecedores internacionais. Na comparação de janeiro a maio de 2009 com o mesmo período deste ano, as compras da África, Europa Oriental, Oriente Médio e Canadá saltaram de 6,4% para 10,9% de participação nas importações brasileiras de matérias-primas e insumos intermediários. As participações individuais dos blocos ainda são relativamente pequenas - a fatia da África, por exemplo, passou de 2,3% para 4,7% -, mas chamam a atenção numa categoria de bem que representou 47% dos desembarques totais brasileiros no acumulado de janeiro a maio.
Os novos fornecedores estão não só complementando a oferta interna de insumos como também as vendas de tradicionais fornecedores internacionais. Na mesma base de comparação, União Europeia e Ásia praticamente mantiveram as fatias na importação brasileira de matérias-primas e intermediários. Os produtos comprados dos novos fornecedores são tão diversos quanto os países: desde nafta e couros e peles da Nigéria até hulha canadense, além de insumos químicos e laminados de aço e ferro de países do Leste Europeu. José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que novos fornecedores estão aproveitando a oportunidade de entrar no Brasil num momento de grande aquecimento. "É a necessidade de um abastecimento complementar para o qual o tradicional fornecedor não tem capacidade de produção. Ou que está sendo ofertado por um novo vendedor, já que o Brasil é um mercado disputado no momento", diz. "É possível que esse novo vendedor tome definitivamente o lugar de um fornecedor mais tradicional."
O novo movimento tem criado oportunidades. A transportadora TNT deve começar a oferecer este mês um novo serviço que inclui o desembaraço aduaneiro de desembarques aéreos e a entrega no estabelecimento de destino no Brasil. O novo serviço tem dois focos principais: os países asiáticos e também o crescimento dos desembarques originados da Europa Oriental, diz o diretor de marketing, Ricardo Gelain. Segundo ele, a empresa, com matriz na Holanda, já tem estrutura logística para embarcar rapidamente as mercadorias da região para o Brasil.
"A Europa Oriental tem atraído muitas fábricas em função da mão de obra barata e isso tem ajudado a aumentar as exportações de vários tipos de insumos a locais com mercado aquecido, como o Brasil", diz Gelain. Entre os produtos que ele acredita que podem alavancar as importações brasileiras da região estão autopeças e componentes para indústrias de tecnologia originadas principalmente da Estônia, Bulgária e Romênia.
Além do baixo custo de mão de obra, diz Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, os países da Europa Oriental também contam com juros mais amenos e menor carga tributária, na comparação com o Brasil. Para ele, isso tem ajudado os países da região a criar maior competitividade no fornecimento de insumos no mercado internacional. "É natural também que o Leste Europeu esteja trabalhando com novos mercados, porque os vizinhos na Europa Ocidental estão com economia estagnada e devem ter reduzido as compras."
Para Silveira, os países africanos também conseguiram avançar porque eles oferecem produtos que os asiáticos não têm. "Eles exportam nafta e outros insumos petroquímicos, enquanto a produção da Ásia é mais focada e altamente competitiva em produtos de maior valor agregado, como bens de consumo."
De janeiro a maio de 2010 na comparação com o mesmo período do ano passado a Ásia ampliou consideravelmente sua fatia nas importações brasileiras de bens de consumo e bens de capital. A participação do continente saltou de 34,8% para 42% nos desembarques brasileiros de bens de capital e de 35% para 40% nas compras externas de bens de consumo. Perderam participação Estados Unidos e União Europeia (ver quadro).
Do lado das exportações brasileiras, os países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) têm sido importante tanto nos embarques de bens de consumo e de capital como também nos de matérias-primas e insumos intermediários.
Para André Sacconato , da consultoria Tendências, isso é resultado não só da baixa base de comparação como também de um crescimento maior dos países dessa região na comparação com mercados como Europa e Estados Unidos. Os países da Aladi avançaram, por exemplo, de 22% para 25,7% na participação das exportações brasileiras de bens de consumo de janeiro a maio de 2009 para o mesmo período deste ano. A perda foi da União Europeia, cuja participação caiu de 24,6% para 21,6% .