Título: Na campanha gaúcha, doações seguem as pesquisas
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2010, Política, p. A6

O primeiro levantamento das arrecadações dos principais candidatos ao governo do Rio Grande do Sul mostra que os doadores gaúchos estão colocando a mão no bolso de olho nas pesquisas eleitorais. O petista Tarso Genro, que lidera as pesquisas de intenção de voto, conseguiu R$ 1,3 milhão até agora. José Fogaça (PMDB), segundo colocado, com 27% a 29%, obteve R$ 639 mil, enquanto a governadora Yeda Crusius (PSDB), que vem em terceiro na preferência do eleitorado, na faixa de 12% a 15%, arrecadou R$ 460 mil.

Os números também indicam que os financiadores das campanhas estão mais generosos neste ano do que em 2006, tomando-se como base de comparação as doações obtidas pelos mesmos partidos. Na última disputa estadual, o PT declarou na primeira parcial que havia arrecadado R$ 237,3 mil para o então candidato Olívio Dutra. O PMDB, que concorria com o então governador Germano Rigotto, informou receita de R$ 313,7 mil e o PSDB, que acabou elegendo Yeda, R$ 115,3 mil.

Mesmo assim, os valores declarados até agora estão muito aquém dos tetos previstos e os coordenadores das campanhas já admitem que os números ficarão bem abaixo do projetado. Eles dão prioridade aos programas de televisão, mas se queixam da falta de dinheiro para produção de material impresso e abertura de comitês eleitorais. Mais modesto, o PT projetou despesas de até R$ 10 milhões na disputa para o governo estadual. O PMDB estimou R$ 14 milhões e o PSDB, R$ 23 milhões.

Por intermédio de sua assessoria, o administrador financeiro da campanha do PT, Estilac Xavier, informou que até ontem à noite não tinha fechado a parcial das despesas. Fogaça já gastou R$ 426,1 mil e Yeda, R$ 240 mil. Mesmo com o crescimento das receitas em relação a 2006, o coordenador executivo da campanha do PMDB, Clóvis Magalhães disse que a arrecadação está "difícil" neste ano. "O comportamento dos colaboradores tradicionais mudou radicalmente", afirmou. Para ele, a "multiplicidade" de partidos e as alianças entre siglas de perfis políticos divergentes pode ser um dos fatores que impede doações mais generosas aos candidatos.

"O modelo atual de captação está se esgotando e precisamos pensar no financiamento público", comentou Magalhães. Segundo ele, boa parte dos doadores tem receio de se expor e prefere contribuir para os partidos, que repassam os recursos para os comitês financeiros dos candidatos. O coordenador explicou ainda que o ritmo de arrecadação, mais lento do que o previsto, está provocando atrasos na confecção de materiais e abertura de comitês. A produção dos programas de TV não será afetada, garantiu.

Para o coordenador da campanha do PSDB, Luciano Silva, a arrecadação está travada porque os doadores estão esperando pela definição das pesquisas. Segundo ele, o partido deixou de produzir até agora 30% do material impresso previsto para o período e a instalação de comitês está mais lenta do que o esperado, mas os programas de TV serão produzidos no prazo estipulado. A situação também deverá levar o partido a fazer uma "reengenharia financeira" nos gastos programados para agosto e setembro, acrescentou Silva.