Título: Campos critica programa petista
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2010, Política, p. A8

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, afirmou ontem que os programas de governo elaborado pelos partidos precisam ter "menos refrão e mais conteúdo prático". O governador considera completamente desnecessários alguns pontos incluídos no programa do PT, como controle social da mídia, por exemplo. Para ele, os partidos políticos precisam ouvir mais a sociedade ao elaborar suas propostas de governo, perdendo a mania de deixar esse trabalho por conta dos intelectuais e dos integrantes das legendas. "Controle da mídia? O que isso interessa para população? Isso só interessa a intelectuais com delírios e recaídas de 20 anos atrás", criticou.

O PSB apresentou suas propostas para a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defendendo um Estado com maior planejamento, com metas e prazos para execução de obras e ações governamentais. "Um Estado do fazer", resumiu o governador pernambucano. Propõe ainda a manutenção dos atuais padrões de desenvolvimento econômico com inclusão social, respeito à política de equilíbrio fiscal e monetário e respeito ao meio ambiente. "É isso que a população está esperando, algo que influencie diretamente sua vida", afirmou Campos.

Depois de encontro com Dilma, as propostas foram divulgadas. Há convergências com propostas do PT como a a redução da jornada de trabalho e o fortalecimento da reforma agrária. Na área econômica, há a defesa de "uma reforma tributária "que persiga a justiça fiscal, proteja as regiões mais pobres, compreenda a taxação extra das grandes fortunas e desonere o consumidor na ponta". Em relação à política monetária, o partido sugere "juros internos convergindo para as taxas internacionais" e "juros diferenciados quando destinados a investimentos que assegurem o aumento da produção ou a criação de emprego".

Campos não espera que as propostas do PSB sejam aceitas sem qualquer tipo de discussão. "Não aceito imposições, nem fazendo nem sofrendo. Se nossas ideias forem acatadas, ótimo. Se não, vamos colocá-las em prática quando tivermos um candidato com viabilidade eleitoral para ganhar as eleições presidenciais", afirmou Campos.

No evento da noite de ontem para entrega do programa, não estava prevista a presença do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que durante muito tempo foi o pré-candidato do partido à Presidência, mas que acabou tendo sua candidatura retirada para que a legenda apoiasse Dilma Rousseff. Ciro também não esteve presente na reunião do Diretório Nacional que decidiu pelo fim da candidatura própria. "Não vou adjetivar ou comentar a ausência do Ciro. Só sei que ele prometeu que seguirá as orientações do partido. E o PSB fará campanha para Dilma", disse Campos. Segundo o presidente do PSB, o partido está coeso nesse sentido, com a presença de candidatos a governadores, deputados estaduais e federais e senadores.

O presidente do PSB admitiu que a experiência de Dilma como chefe da Casa Civil e gestora do PAC poderá ajudar na concretização das propostas do PSB. "Nós defendemos um Estado com excelência na gestão e que saiba, além de planejar, cumprir metas e prazos". Campos vislumbra como o melhor caminho para o país uma igualdade de eficiência entre a execução e a fiscalização.

Setores do governo sempre reclamaram que órgãos fiscalizadores, como os Tribunais de Conta, têm servidores mais preparados e melhor remunerados, o que leva a uma fuga de mão-de-obra qualificada do Executivo para esses órgãos. Além disso, os brasileiros pagam, na opinião do governador de Pernambuco, uma alta carga de tributos e merecem, em contrapartida, receber serviços públicos de qualidade.

Dilma Rousseff deverá estar na sexta, em Garanhuns, em ato político ao lado de Campos - que concorre à reeleição - e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse dia, o presidente estará à tarde em Caetés lançando o programa "um computador por aluno". À noite, participaria de um ato no Festival de Inverno de Garanhuns. (Colaborou Caio Junqueira, de Brasília).