Título: Servidores e empresários, a maioria dos candidatos
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 11/07/2010, Cidades, p. 25

Entre os concorrentes a uma das 24 vagas de deputado distrital, 12,8% são funcionários públicos e 11,4% têm seu próprio negócio. Para quem trabalha no Estado, licença remunerada de três meses funciona como um grande atrativo

Quem se habilita a tentar uma vaga de distrital é, em geral, homem de meia-idade, nascido em Brasília, pertencente à classe média e trabalha no ramo empresarial ou no serviço público. Esse é o perfil da maioria dos 802 candidatos que se inscreveram no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com o objetivo de disputar uma das 24 vagas na Câmara Legislativa. Com base nas informações prestadas pelos próprios postulantes à Justiça Eleitoral, o Correio fez um levantamento das principais características do grupo interessado em se eleger deputado (confira quadro). Curioso é que as legislaturas refletem os traços predominantes entre os concorrentes, o que nem sempre condiz com o conjunto da sociedade.

A carreira política é uma segunda opção de atividade profissional para todos os candidatos a deputado. Em sua maioria, eles se dividem entre servidores públicos, empresários e comerciantes. Os três segmentos somados correspondem a um terço das ocupações declaradas na ficha de registro dos concorrentes. Os funcionários de Estado são os campeões na lista de postulantes à Câmara Legislativa. Das 802 pessoas de olho na cadeira de deputado, 102 trabalham na administração pública. Em seguida, a turma que demonstrou mais interesse na função parlamentar é formada por empresários (91) e comerciantes (49).

Juntos, empresários e comerciantes ¿ cujo lucro é um dos objetivos precípuos da atividade ¿ ultrapassam qualquer outra categoria. Serão 193 tentando mandato de distrital nas eleições de outubro. Significa dizer que, a cada quatro candidatos, um é funcionário público ou empresário. Além deles, há também professores (42), advogados (26), policiais militares (24), médicos (12). Trinta e seis aposentados, dez estudantes e cinco donas de casa também querem tentar a vida como políticos.

Há, pelo menos, dois motivos que podem justificar a grande incidência de servidores na relação de candidatos inscritos no TRE. O primeiro é que Brasília, por se tratar da capital da República e abrigar a sede dos três poderes da União, reúne uma grande quantidade de servidores. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no DF mais de 200 mil funcionários públicos (civis e militares) concursados ¿ isso sem levar em conta os comissionados, contratados sem concurso público.

Além disso, esses profissionais recebem um empurrãozinho previsto na legislação eleitoral na época da campanha. Nesse período, esses trabalhadores ganham três meses de licença remunerada para investir exclusivamente na disputa eleitoral. Muitos, de fato, utilizam o tempo para pedir votos em andanças pela cidade. Mas existe também o grupo que se aproveita dessa prerrogativa para tirar férias prolongadas.

O petista Chico Leite é um dos 102 candidatos em 2010 que advém do serviço público. Procurador de Justiça licenciado, ele vai tentar a terceira eleição para a Câmara Legislativa. Em 2001, ano em que se candidatou pela primeira vez, o distrital teve acesso à licença de três meses. ¿Fiz campanha todos os dias, mas sei de gente que se aproveita desse prazo para outras finalidades. O sujeito que usa um direito constitucional para enganar os outros é tão corrupto quanto o ladrão do dinheiro público¿, considera o político.

A composição atual da Câmara Legislativa mostra que a predominância de servidores do Executivo ou do Judiciário entre os candidatos inscritos no TRE não se encerra na fase da campanha. Entre os concorrentes eleitos, a maioria é proveniente de atividades remuneradas pelo Estado. Dos 24 distritais que atualmente compõem o Legislativo local, sete ¿ 29,1% deles ¿ atuaram em funções ligadas à administração pública antes de ingressarem na carreira política.

75% são homens e 47,9% concluíram uma faculdade

JULIANA BOECHAT

Os candidatos que concorrerão aos cargos públicos do Distrito Federal nas eleições de outubro deste ano seguem um padrão. O levantamento feito pelo Correio mostra que grande parte das pessoas lançadas ao governo é homem, tem aproximadamente 45 anos, cursou a universidade e nasceu no DF. Especialistas em sociologia e em políticas públicas acreditam que o tipo comum de político é escolhido pelos partidos e lançados à vontade da população. Os eleitores, então, devem escolher entre as opções disponíveis em quem vão depositar o voto de confiança nas urnas. Apesar da regra de que 30% dos candidatos lançados pelas coligações devem ser mulheres, na corrida para a Câmara Legislativa apenas 24,9% são do sexo feminino. A esmagadora maioria (75,1%) é composto por homens. Significa dizer que, para cada candidata, há três homens na disputa.

O professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Eurico Santos acredita que a principal questão é descobrir porque os partidos estão apresentando esse tipo de político à população e, então, o motivo de os eleitores votarem nos candidatos padronizados. ¿Há uma oferta nesse sentido por parte das legendas. Em segundo plano, devemos entender que a demanda da população tem uma escolha a fazer sobre essa oferta que está aí¿, acredita.

Segundo ele, os partidos escolhem os homens de aproximadamente 45 anos e graduados porque este tipo de gente domina as estruturas partidárias. E, de forma secundária, o professor ressalta a afinidade da população com os traços culturais desses rostos políticos. ¿Os homens estão nas famílias e as mulheres sofrem cada vez menos preconceitos tradicionais. O problema é que poucas mulheres ainda estão interessadas na política.¿ Um estudo citado por Santos mostra que não há grandes diferenças na atuação parlamentar de homens e mulheres.

O especialista em políticas públicas da Universidade Católica de Brasília (UCB) Emerson Masullo acredita que a participação da mulher na política é uma tendência. ¿A quantidade de mulheres ainda é pequena. Mas seria uma boa opção. A mulher tem facilidade de realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo e de ser mais reflexiva do que reativa¿, defendeu.

Para ele, a maioria dos candidatos do Distrito Federal têm nível superior completo porque a população está inserida no serviço público. Masullo defende que a localidade também é um fato a ser considerado. ¿O candidato daqui da terra pelo menos cresceu e conhece de perto a sociedade em que vive. O risco da demagogia, em tese, seria menor. Esses candidatos que estão na faixa etária são filhos da terra¿, considera.