Título: Ritmo do crescimento cai pela metade no 2º tri
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2010, Brasil, p. A5

O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) confirmou a expectativa de estabilidade ao longo do segundo trimestre. O indicador apresentou leve alta de 0,02% em junho em relação ao mês anterior, enquanto os dados corrigidos de maio apontam retração de 0,06% no mês em comparação com abril (o número anterior indicava estabilidade). Houve, portanto, pouca variação na atividade medida pelo BC entre os meses de abril e junho.

A desaceleração fica mais evidente quando se compara o ritmo deste trimestre com o dos primeiros meses do ano. Entre janeiro e março, o IBC-Br sinalizava avanço de 2,45% da atividade quando comparado com a média dos últimos três meses do ano passado. Já o indicador levantado entre abril e junho aponta expansão média de 1,32% em relação ao primeiro trimestre deste ano, na série com dados dessazonalizados.

Esse comportamento era esperado pelos analistas, já que a base de comparação no primeiro trimestre era muito mais baixa e o país ainda vivia sob os efeitos dos estímulos fiscais (compulsório e taxa Selic abaixo dos padrões brasileiros, além da isenção de impostos). Isso não significa, no entanto, que o país não está crescendo, pondera Eduardo Velho, economista-chefe da corretora Prosper. Segundo disse, a expansão da economia ainda é "bem razoável".

Nos últimos 12 meses, em média, o IBC-Br evoluiu 6,06%, quando confrontado com igual período do ano anterior. Já a comparação dos primeiros seis meses com o primeiro semestre de 2009 aponta evolução de 9,96%. "O crescimento está mais moderado, mas ainda consistente com um patamar acima de 7% em 2010", afirma Velho. O indicador desenvolvido pela autoridade monetária tem apresentado boa aderência aos dados efetivos do PIB, medidos pelo IBGE.

A discussão agora está na tendência desse movimento para o restante do ano. O BC alterou o ritmo de aperto monetário baseado nos dados mais recentes da economia, que apontam desaceleração da atividade e menor risco para a inflação (com influência deflacionária do exterior). Há, no entanto, analistas que veem elementos suficientes para concluir que o comportamento do segundo trimestre foi apenas transitório.

Para Velho, o viés é de alta para o terceiro trimestre. Segundo ele, os indicadores do mercado de trabalho industrial, divulgados pelo IBGE, mostram que os rendimentos reais voltaram a crescer, de maio para junho.

Felipe Wajskop França, economista do ABC Brasil, lembra que os dados positivos das vendas do varejo, acima das projeções dos analistas, reforçam a visão de que os fundamentos que sustentam o dinamismo do mercado doméstico se mantêm firmes. Isso representa, segundo ele, "uma fonte de pressão sobre a estratégia do BC, aparentemente indicada na ata da última reunião do Copom, de encerrar o ciclo de aumento de juros na reunião de setembro", disse.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o terceiro trimestre volta mais forte em parte pela própria desaceleração do segundo trimestre, e também porque o efeito de política monetária ainda não chegou, ao passo que continuam em ritmo consistente o mercado de trabalho e o de crédito. "O crescimento do segundo trimestre deve ficar mais próximo de 0,5%. Mas a expansão no terceiro deve ficar mais perto de 1%, enquanto o quarto, que tradicionalmente é um pouco mais forte, deve ter expansão de 1,3%."

Bráulio Borges, da consultoria LCA, levanta alguns pontos que sinalizam que a desaceleração, de fato, não foi temporária. "Houve antecipação de consumo de carros e de linha branca, o que roubou crescimento do futuro e o deslocou para fim de 2009 e começo deste ano. Isso não se dissipa rapidamente, pois as dívidas permanecem por bom tempo, com impacto maior no segundo trimestre."

Além disso, os efeitos restritivos da política monetária passam a ser sentidos a partir de agora. "Os bancos vão ficar mais seletivos e deve haver piora no emprego nos próximos meses ", diz Borges. Um terceiro elemento é a política fiscal. Os gastos excessivos do primeiro trimestre foram uma antecipação de gastos para evitar as travas impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita despesa em época eleitoral.