Título: Deflação ameaça os países ricos, diz o IIF
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2010, Internacional, p. A7

A deflação parece ser agora uma preocupação mais legítima e generalizada nos países desenvolvidos do que em qualquer outro período desde 1930, diz o Instituto Internacional de Finanças (IIF), em relatório confidencial que coincide com mais incertezas sobre o estado da economia.

Numa ilustração de como esse risco cresce, a entidade que representa os maiores bancos do mundo nota que os elementos centrais da inflação nas grandes economias ricas estão hoje bem abaixo do que estavam durante o último grande "temor de deflação", em 2003.

Em recente entrevista ao Valor, o economista-chefe da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), Heiner Flassbeck, apontou como maior risco um cenário de "deflação e estagnação, como no Japão dos últimos anos".

O IIF tende nessa direção, notando que a economia do Japão se atolou na deflação e na recessão de 2008-09. E que a recente alta do iene intensifica essas pressões.

Nos EUA e na zona do euro (os 16 países que utilizam a moeda comum europeia), o núcleo de inflação (que exclui energia e alimentos) está em torno de 1%. Apesar das últimas ações do Federal Reserve, as expectativas de inflação continuam sendo de queda.

A maior pressão para mais baixa de preços ocorre no setor de serviços e tende a se intensificar nos próximos trimestres. A forte demanda por bens de consumo nos EUA pode elevar os custos desse segmento no mundo, mas terá pouco efeito para moderar a baixa nos preços de serviços, pelo menos no curto e médio prazos, diz o IIF.

O consumo de serviços financeiros, habitação, utilitários e até de saúde caíram nos EUA, em contraste importante com a última recessão, em 2001-03.

Para a entidade dos bancos, o forte crescimento das exportações da Alemanha também será insuficiente para fortalecer os preços nos outros países da zona do euro, onde o nível geral de preços precisa baixar para restaurar a competitividade.

A relativa fragilidade da demanda no setor de serviços vai bem além dos EUA, diz o IIF. Reflete uma mudança estrutural ampla envolvendo o déficit externo dos países desenvolvidos, à medida que essas economias "se reorientam para a produção de manufaturas".

O oposto está ocorrendo em vários países emergentes que, por sua vez, enfrentam o problema da inflação, como na Índia e em menor grau na China.

Uma característica importante da deflação é que a perspectiva de queda geral de preços faz com que as pessoas adiem o consumo, esperando mais baixa, e as empresas adiem a decisão de investir, por sua vez empurrando para mais tarde a criação de empregos.

Em seu relatório, o IIF diz que a "moderação" no crescimento dos EUA veio mais cedo do que esperado. Em contrapartida, as perspectivas da Europa não têm sido tão ruins quanto previsto. Mas acha que houve apenas um retardo e a expansão da Europa será mais frágil em 2011 do que em 2010.

Um economista do Schröder Investment Management, Genji Tsukatani, previu em entrevista à agência Bloomberg que os EUA podem sofrer deflação em algum momento nos próximos três anos.

"Os EUA não têm sido um motor para a economia mundial desde 2005. Ela tem sido liderada por países como China e Índia, com crescimento de 8%, 9%", afirmou. "Com menor crescimento populacional e mais ênfase na redução do déficit, a economia dos EUA provavelmente não crescerá tanto."