Título: Driblar costumes e protecionismo
Autor: Botão, Alexandre
Fonte: Correio Braziliense, 11/07/2010, Economia, p. 16

ica nítido que as empresas de óleo e gás da Noruega enxergam o Brasil como o país dos mares de ouro. Mas para não matar quem pode ser tão rentável nas próximas décadas, os noruegueses terão de contornar dois desafios: o modo como pessoas e negócios funcionam no Brasil e o escudo de preservação do mercado nacional estabelecida aqui.

¿As maiores barreiras a serem superadas são a compreensão dos requisitos legais relacionados com impostos, mão de obra, despacho alfandegário e o estabelecimento de empresas¿, reconheceu Rune Norseng, diretor regional para Brasil e Canadá da Intsok (a associação de empresas da indústria norueguesa de óleo e gás). ¿(A associação) vai lançar no início de 2011 um programa estratégico de entrada no Brasil com o objetivo de apoiar as empresas em suas iniciativas de estabelecimento no mercado local¿, completou.

O executivo da Intsok tem razão. Mas há um componente cultural ainda mais forte nessa atual/futura relação. ¿No Brasil, a impressão é que tudo demora demais, tem burocracia demais¿, disse um executivo norueguês, que preferiu não receber a autoria da frase.

Outra questão está no nacionalismo. Fornecedores de produtos e serviços para a cadeia de óleo e gás no Brasil terão prioridade de contratação, anunciou a Petrobras quando da divulgação do plano de investimentos. O valor anual médio de contratação estritamente nacional está estimado em US$ 28 bilhões, ou seja, mais da metade do que deve ser gasto no período, de acordo com as projeções da empresa.

E mesmo quando recorrer ao mercado externo, o Brasil deve apertar nas contrapartidas ¿ benefícios ao mercado nacional provenientes do investimento em bens e serviços estrangeiros. Nesse ponto, porém, as companhias norueguesas parecem inclinadas a arcar com o custo. ¿Estamos preparados para atender as exigências brasileiras para o conteúdo local e respeitamos muito a intenção do Brasil em maximizar a criação de valor e de emprego no seu próprio país¿, ressaltou Rune Norseng. Mas fez uma ressalva esperada: ¿Isso, naturalmente, deve ser contrabalanceado com a criação de valor também na Noruega, por meio da proteção propriedade intelectual¿. (AB)