Título: Especialista vê "limite político" à adoção de regra mais rígida no país
Autor: Schüffner , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2010, Especial, p. A12

Seja qual for a conclusão sobre as causas do acidente no Golfo do México, a perspectiva é de aumento das exigências dos reguladores e da própria indústria, que deve tornar mais rigorosos seus próprios procedimentos. O aumento de custos também é visto como inevitável. Nos Estados Unidos, a projeção é de aumento de US$ 5 no preço do barril de petróleo produzido offshore, segundo Christopher Garman, diretor para a América Latina do Eurasia Group, em Washington. O valor não contabiliza despesas adicionais com a perfuração de poços de alívio simultaneamente aos poços de exploração, uma medida que está em estudo por uma comissão do governo americano e outros países. Se a regra for adotada elevaria os custos a ponto de tornar alguns projetos inviáveis, destaca Garman.

Ele acredita que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vão incorporar algumas das recomendações feitas à indústria após conhecidas as causas do acidente, mas acha que haverá um "limite político" para impor regras que afetem a exploração offshore no Brasil. A leitura é que a reforma do modelo para garantir que a Petrobras desempenhe um papel de liderança no setor e o projeto de capitalização da estatal para ajudá-la a colocar de pé seus planos de investimentos vão evitar que sejam impostos custos considerados excessivos para a Petrobras.

"O governo brasileiro precisa de financiamento de mercado para a Petrobras, é claro. Mas se essa comissão americana fizer sugestões muito radicais nos Estados Unidos o Brasil dificilmente vai aceitar", diz Garman. Ele também elogia o arcabouço regulatório brasileiro, que considera muito bem desenvolvido.

O diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, mostra total confiança na regulação brasileira e corroborou as impressões do analista americano. "Vamos aguardar e tirar as lições. Mas posso dizer que o nosso estado de espírito é que os Estados Unidos, nesse particular de exploração em águas profundas, não é o nosso modelo. Temos até mais experiência que eles", afirmou Lima.

Na análise de Garman, o petróleo do pré-sal será explorado dentro de um contexto em que todas as esperanças do Brasil estão depositadas. "A promessa de desenvolvimento dessa reservas para atender demandas sociais como a educação é muito grande. E nesse contexto político dificilmente haverá um debate nacional questionando a exploração no pré-sal, principalmente em um ano eleitoral." (CS)