Título: Empresa brasileira ainda traz poucos recursos
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2010, Finanças, p. C1

De Brasília

Os investimentos de empresas brasileiras no exterior, que nos últimos cinco anos somaram quase US$ 50 bilhões, ainda não se reverteram em ganhos para os acionistas. A cada ano retorna uma média de US$ 1 bilhão na forma de lucros e dividendos, volume que deve se repetir em 2010, segundo estimativa do Banco Central (BC).

Neste ano, o volume soma pouco mais de US$ 260 milhões, até maio, metade do total remetido no mesmo período do ano passado (US$ 519 milhões).

As aplicações no exterior, que em 2009 recuaram como reflexo da crise, voltaram a crescer neste ano, somando, até maio, US$ 8 bilhões. A expectativa do BC é de fechar o ano com US$ 12 bilhões (o investimento estrangeiro direto no país deve atingir US$ 35 bilhões, segundo estimativa do mercado). Boa parte é dirigida para empresas de alimentos, metalurgia e petróleo. Mas a principal opção ainda é a aplicação em serviços financeiros. Não por acaso Ilhas Cayman é o destino preferido, seguido por Estados Unidos e Luxemburgo, de acordo com dados da autoridade monetária.

A tendência é que ao longo dos anos os investimentos ampliem os retornos e cresça a repatriação de lucros e dividendos. Hoje, no entanto, os ganhos que voltam ao país não compensam os retornos auferidos por estrangeiros aqui no Brasil. Em 2009, US$ 1,2 bilhão remunerou acionistas brasileiros, enquanto US$ 26,5 bilhões retornaram para seus países com lucro.

Essa diferença, tanto dos investimentos quanto das remessas, é uma das contribuições para o déficit em transações correntes. Em 2010, o saldo negativo deve ficar em torno de 2,5% do PIB, crescendo nos próximos anos, dada a necessidade de financiamento externo. Mas não está no cenário dos economistas uma necessidade urgente de ajuste nas contas externas.

Apesar de sempre existir uma preocupação, a condição do balanço de pagamentos brasileiro é hoje bastante diferente do passado, tanto por conta de o país ser credor externo líquido (reservas maiores do que a dívida), quanto pelos menores gastos com juros em um regime de câmbio flutuante. Segundo Luis Otavio Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a estrutura atual é procíclica.

Em momentos de crise, quando há menos recursos na economia, há uma série de acontecimentos que reduzem também a necessidade de divisas: queda nos lucros que puxa para baixo as remessas, mercado interno deprimido derruba as importações, serviços como frete e aluguéis são menos demandados e as pessoas viajam menos para o exterior. (FT)